quinta-feira, 24 de junho de 2010

Palavras


A tal da palavra surge de novo. Poderosa, certeira a quem a souber usar, mas por demais dúbia para grandes crenças. Lembro-me com frequência da prima Lídia. Uma beata de gema, que batia a mão no peito, no acto da contrição. Que comungava aos Domingos e dias santos, com uma devoção de suserana, e que, se a falta surgisse ao serviço religioso, por um motivo de força maior, nunca, por nunca ser, voltaria a comungar sem primeiro se ajoelhar no confessionário do Padre António, a fim de ser perdoada de tamanho desdouro. A filha acendeu paixão por um pobre. Daqueles pelos quais ela rezava, que são gente, apregoa-se, e reza a bíblia. Mas gente para a filha, não era gente daquela. Gente para a filha, seria gente de outra, embora as gentes, diz-se serem iguais, com as tais das palavras, que se deveriam engolir e provocar azia, mas não, que são fáceis de digerir. Fossem elas como a morcela, que nos irrita o estômago, que nos acautelaríamos mais, que grande lacuna da natureza humana, temos aqui. Arrumam-se, clandestinas, aqui e acolá, logo após terem sido proferidas, manifestando bem alto, o fraco poder da nobreza do Homem. A tal da palavra, surge como uma vanglória. Um poder que se tem sem se ter, um dito que não se sente, uma promessa que não se cumpre. Frouxa como só ela, assume-se com delicadeza numa sociedade que a usa em prol de si, num uso abusivo e falso, quase me fazendo crer, que falsa não é a palavra, mas quem tão mau uso faz dela. O que me dizes, a nada me vale se nada fizeres. A ti, que por contrário me fazes, ainda que em silêncio, um grande bem haja.

3 comentários:

  1. E um grande bem haja para ti e para o texto :):)

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  2. Há quem diga que as palavras sem os actos de nada valem. Há quem diga que o vento as leva. Contudo, a palavra certa, no momento certo, pode fazer a diferença. Estou com a Antígona, belas palavras as tuas. :)

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  3. Típico, uma coisa é professar na igreja, outra é colocar na prática os ensinamentos obtidos. Se fosse um Doutor cheio da massa, aí o catolicismo já apontaria para o casamento!

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