quinta-feira, 26 de novembro de 2015

as mães de hoje em dia

O garoto chega-me sempre igual. Franzino de meter dó, desafiador de meter raiva. A mãe vem cada dia com os maxilares mais direitos, a "culpa" é do seguro do trabalho do marido, que lhe tem salvo os dentes e a desinquietação do filho, qual delas a mais precisada. Nunca entra no inicio, fica sempre tudo para o fim da consulta, e aí sim, conta da vida quotidiana; as idas à catequese do menino, sempre cumpridas ao rigor, as noites passadas no tablet, ninguém lho tira a não ser o pai quando o coloca de castigo, coisa que a mãe não concorda, pobre criança, onde irá entreter o espírito no fim das aulas e aos fins de semana? Normalmente fura sempre, mas o pai nem sonha, só ela e o menino. - Este malandro come sempre no quarto, diz-me entretanto. -Veja bem, estou farta de dizer ao meu marido que ralhe com ele quando eu insisto que coma na cozinha, mas ele não diz nada, não me ajuda na educação desta criança, que está tão difícil... Ainda ontem esqueci-me de lhe dar o comprimido. Sabe lá, não fez nada o dia inteiro, não se sentou, não fez o teste, merecia ficar de castigo. Fui eu que me esqueci, é um facto, mas esta inquietude dele enerva-me. Eu própria, confesso, começo a ficar inquieta perante aquela mãe, que apanho no final do dia e após a consulta relativamente pacifica, com a criança endiabrada. A hora é tardia. O garoto deveria estar no caminho da cama, mas descubro que ainda vão fazer um desvio. - Sabe, sempre que vem à sua consulta tenho de o levar ao Mc' Donalds. É fatal como o destino, caso contrário não o consigo aturar, nem o consigo trazer. Nesta altura de ego ferido, quando descubro que um qualquer hambúrguer me compra à descarada, o meu sorriso educado já não sai, os meus pés dirigem-se à secretária, as minhas mãos começam a arrumar rapidamente o material, cansado da guerra. Mesmo antes de saírem, já não recordo o porquê, a mãe lembrou-se do João, um menino que come sopa triturada aos nove anos de idade. Acha normal?, pergunta-me em alta voz, aos nove anos sopa passada? - Isso é com ele e a mãe, respondo no limiar da paciência, a anos luz de distância da sintonia desejada... - Claro, diz ela segura de si..- Não sei que mães são estas de hoje em dia... 

Nem eu sei. Mas a verdade é que por vezes me canso delas.

4 comentários:

  1. É sempre tão fácil educar os filhos dos outros. Agora, os nossos... aí é que a porca torce o rabo :)

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  2. Ainda bem que decidi não ter filhos. E se eu não fosse a "mãe certa"? Pode acontecer...
    Estou realmente cansada de todas essas mães que não se importam com seus filhos.
    No meu país, todas as crianças estão com o futuro desmoronando...
    Cansei de enxergar, cansei de fechar os olhos, cansei de tentar ajudar...
    Acho que as crianças devem mesmo ter um Deus separado para elas... E ainda bem que Ele existe!

    Um abraço!

    Senhora A.

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