Hoje é um dia de mudanças para muitos dos nossos jovens. As universidades abrem as portas dos seus lugares sentados, e quem conseguiu alcançar a meta inicia um percurso que poderá ser de sucesso. Identifico-me muito com a evolução pessoal, o investimento na educação e no conhecimento. Aprecio as sociedades que permitem aos jovens crescer, mas acompanho demasiado perto alguns deles para conhecer a tensão onde se encontram, nos anos que antecedem esta vitória. Muitas escolas fracas, com professores de papel e sem história. Muitos programas pré-estabelecidos, onde a verdadeira arte de transmitir conhecimentos é engolida por metas rigorosas e medidas à régua, como se só quem atingisse o valor certo pudesse ter o dom de um dia, vir a ser um bom profissional. Ninguém, ou muito poucos perdem um bocadinho do seu tempo a pensar no que vagueará na cabeça destes jovens. Quantas contas farão ao longo do secundário, financeiras e de valores de média, quantas vezes reequacionam os percursos, quantas segundas escolhas lhes nascem no horizonte, na miragem de não conseguirem alcançar a primeiras. Quantas noites passam sem dormir a construir castelos alternativos que lhes permitam ser o que não escolheram, por um acidente de percurso que pode ser tão trivial como um simples azar no professor da disciplina de matemática, acompanhado de uma limitação financeira familiar, para pagar uma explicação. O país une-se em perfeita junção para acompanhar os casos de sucesso, mas nem olha para os que ficam pelo caminho, e nem sequer para o processamento interno dos que alcançam o objectivo, à custa de uma saúde mental que deveríamos incentivar, e não colocar à prova em idades onde o sonho ainda deveria comandar a vida. Deixo os meus parabéns a todos os que conseguem caminhar. De frente, de costas, devagar ou depressa, e deixo também os meus parabéns aos que acabam arredados do processo, ainda antes dele arrancar. Louvo que consigam adaptar-se, arranhar soluções, perseguir indefinidamente o que ambicionam, cair e levantarem-se. Se tudo isto faz parte da vida, faz. Mas a desigualdade que este sistema permite, e o caminho onde desagua, não favorece, de forma alguma, um caminho de sucesso na evolução e na construção de melhores profissionais. A educação, a base de todo o ser humano, continua a ser para quem pode tê-la. Um sinal claro de um mundo sub-desenvolvido, de onde tão cedo não iremos sair.
O que me faz reflectir... Todos os textos que aqui publico são de minha autoria, e as personagens são fictícias. Excluem-se aqueles em que directamente falo de mim, ou das minhas opiniões, ou onde utilizo especificação directa para o efeito.
domingo, 8 de setembro de 2019
quinta-feira, 5 de setembro de 2019
Feira
Aqui, ao longe, quase sinto o cheiro da cebola, da feira da minha terra. Gosto de feiras. Movimento-me bem nas bancas de roupas duvidosas, intercaladas com legumes frescos, malas de contrabando e lingerie cor de rosa a um euro. Acabo sempre por encontrar umas boas bagatelas, quanto mais não seja um lenço colorido a imitar seda selvagem, só perceptível ao toque, como tanta outra falsidade. Mas as feiras da minha terra, há muito que perderam o encanto. Misturam por ora, sem graça e sem arte, o aroma do campo e da simplicidade, com o odor cansado da presunção. No mesmo espaço, chocalha a tradição perfumada, com uma modernidade indefinida, um misto de lugar nenhum, onde o que era já não existe, e o que se ambiciona, parece não se encontrar. Vejo tantos territórios destes, que invariavelmente ficam pelo caminho. As feiras da minha terra mereciam um outro destino, mais original, mais honesto, como o grito longo do pregão. Não mereciam morrer de solidão, entregues a quem não sabe cuidar delas, e que as roubam à sua própria individualidade.
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