quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Feira


Aqui, ao longe, quase sinto o cheiro da cebola, da feira da minha terra. Gosto de feiras. Movimento-me bem nas bancas de roupas duvidosas, intercaladas com legumes frescos, malas de contrabando e lingerie cor de rosa a um euro. Acabo sempre por encontrar umas boas bagatelas, quanto mais não seja um lenço colorido a imitar seda selvagem, só perceptível ao toque, como tanta outra falsidade. Mas as feiras da minha terra, há muito que perderam o encanto. Misturam por ora, sem graça e sem arte, o aroma do campo e da simplicidade, com o odor cansado da presunção. No mesmo espaço, chocalha a tradição perfumada, com uma modernidade indefinida, um misto de lugar nenhum, onde o que era já não existe, e o que se ambiciona, parece não se encontrar. Vejo tantos territórios destes, que invariavelmente ficam pelo caminho. As feiras da minha terra mereciam um outro destino, mais original, mais honesto, como o grito longo do pregão. Não mereciam morrer de solidão, entregues a quem não sabe cuidar delas, e que as roubam à sua própria individualidade.

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