Um dia acordei e descobri que podia ser eu a sentir o que já escutei de vozes aflitas. Que podia ser eu a temer pelos meus dias e pelas minha noites, pelos meus sonhos escondidos e pelos meus projectos inacabados. Eu já sabia que a vida nos trai como um homem de meia idade, sedento de mudança. Sabia que ela se enche de sopros que nos encostam a paredes e a espadas, paredes duras, frias e silenciosas, espadas firmes, violentas, precisas. Nada disto me espantou. Nada disto me fez redimensionar o espaço da minha existência. Nada disto me fez acreditar mais ou menos no divino, ou procurar respostas escondidas na fraqueza da esperança. A esperança é uma fraqueza, é um encosto mortiço e frágil, derrubado por uma brisa que parece não mover um grão de pó. O silêncio talvez seja o que mais dói, quando a esperança se aloja em nós como um bichinho de conta prestes a ser espezinhado. O silêncio na dúvida mata o sossego, derruba a mente, cria desarmonia no espaço côncavo do nosso corpo. Engraçado, mesmo que todos falem alto e ninguém se oiça no barulho, o que reina é o silêncio. Quem sabe da resposta que não queremos encontrar, quem sabe se das ausências que nos atiram ao rosto com força, como chapadas sem respeito.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Deixar um sorriso...