sábado, 1 de agosto de 2015

estado puro?

A minha profissão ensinou-me a compartimentar pessoas. Hoje tenho alguma especialização em dividir a personalidade como quem desmembra um carneiro, aqui a interacção, ali a estima, acolá a educação, ali ao lado o preconceito. Levei tempo a conseguir interagir com elas separadamente, mais ou menos o mesmo que demorei a separar casa-trabalho, ou outros semelhantes. A bem dizer ainda estou longe da perfeição, em uma e em outra, mas vou ficando perto, quanto mais não seja porque tento muito. Sendo assim é-me fácil estancar com garrotes uma parte protegida de alguém, e ofender-me simplesmente com a sua ira. É-me possível matar aquele lugar e enterrá-lo vivo, enquanto guardo para mim o outro lado, sem que esse sofra qualquer tipo de revolta da minha pessoa. Encarar o outro como um todo é um agente facilitador, mas enganador da existência. Faz com que por um único facto possamos desdenhar quem nos quer bem, e faz ainda com que com uma palavra branda possamos ser iludidos, presos e castigados, porque ali ao lado pode morar um pecado muito maior. Não há bondade simplesmente pura, nem maldade unicamente crua. Há convergências boas e convergências difíceis, há horas más e dias bons, há locais abençoados e sítios amaldiçoados. Não sei se poderão os entendidos catalogar esta minha estratégia como uma dissociação externa, mas eu, uma profunda desentendida, chamo-lhe mais uma simples acção, que me permite perceber o porquê do bêbedo conseguir dar-me um sorriso, o que levou uma mãe a não ensinar um filho, ou o que impeliu um marido a desproteger a mulher. 

4 comentários:

  1. Desisti da perfeição. Contento-me com a normalidade. Dentro da normalidade, sinto-me, assim, "profundamente desentendida".
    :)

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    Respostas
    1. Também não quero nada com ela... Mas por vezes, Luísa, a normalidade também é assim mesmo, desentendida...

      Bom passeio amanhã... :)

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  2. A normalidade pode ser aparente. A bondade, também. Importante é o pensamento e a liberdade. Quando não há liberdade não há pensamento. Logo, não há nenhuma hipótese de normalidade.
    Bj às duas CF e Luisa.
    G.S

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  3. Sempre gostei da sua escrita. Pareceu-me espontânea e com alguma garra. Afinal não passa de um arrevesado de rodriguinho e meia dúzia de balelas que se aprendem nos bancos das faculdades.
    A "mulher de garra", a Dr.ª Psicóloga que "disseca" espera afinal, que o "macho" autorize. Que o "macho disponha. Que o "macho" queira ou não queira que publique e responda a comentários. Inclusive no seu próprio espaço e comentários absolutamente inócuos como o que lhe deixei aqui. Onde voltou... para respirar.
    Certamente nos encontraremos por aí. Logo vejo se vale a pena cumprimentar a Drª no seu vestidinho de circunstância. Serve-lhe, realmente.
    Quanto ao "macho" fica o esclarecimento: não me interessa rigorosamente nada a pessoa. Ou seja: o seu "macho".
    Interessava-me ver uma série de coisas que estão mais do que vistas. Acontece que não é particularmente sagaz e tem um ego do tamanho do mundo, que eu pus a nu. O bê-á bá da psicologia, portanto.
    Não passa afinal de uma ribatejana com um bocadinho de queda para a pena, umas banalidades decoradas e um "macho" que manda. Vai ficar muito bem nas fotografias e passar umas férias fantásticas. Quem sabe torna-se uma especialista em questões africanas. Um dia, vai sentar-se na varanda e pensar se ainda tem algum assunto para escrever...se ainda tem algum comentário para responder, algum espaço para pensar pela sua cabeça. Nesse dia, vai lembrar-se desta mensagem. Uma pena Carla. Sinceramente: uma pena!
    Cumprimentos,
    George Sand

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