sexta-feira, 23 de setembro de 2016

em casa de ferreiro, espeto de pau...

Equilíbrio é um estado emocional básico do ser humano, preciso para que o corpo e a mente funcionem numa sintonia quase perfeita, mais veloz do que uma nave, mais serena do que uma folha que cai lá fora, no outono. Cada um sabe do seu, é pessoal e intransmissível, constrói-se em cada escolha, num ou noutro desafio, nas aprendizagens e nas quedas, nos caminhos que escolhemos ou precisamos de percorrer. Ninguém funciona plenamente em descompensação constante, chega a uma altura em que o corpo cede ou a mente estonteia. Ninguém consegue porém o estado pleno da grandeza, não há estruturas puras na mente, há mudança e há hábitos, há desejos e uniões, solidão e partilha, em doses distribuídas de funcionalidade e simbolismo. Gosto de dar beijos à minha gata, faz parte do meu equilíbrio, por desequilibrado que o acto vos pareça. Gosto de comer cereais enquanto vejo um filme trivial, e de me concentrar horas a fio em leituras consequentes, nenhuma delas efectivamente salutar, na verdadeira acepção da palavra. Saudável deverá ser comer saladinhas de rúcula verde e fruta, e ler coisas proveitosas que nos ensinem a caminhar sempre a direito, com regras e horas marcadas, a mais terrível de todas as existências: as construídas por alguém, para um outro alguém que nunca serei eu. É esta a magia do que faço, é isto que me encanta no trabalho que executo nos dias. Procuro sem cessar o que cada um pode querer para se equilibrar, sem comparações, sem avaliações, sem censura, sem réguas que me tentem dizer onde mora o normal e onde cabe o patológico. Quando saio à porta para fora e viro gente outra vez, fico meio zonza, um tanto ou quanto abananada, ligeiramente desequilibrada, profundamente pensativa, e sempre muito desengonçada. Em casa de ferreiro, espeto de pau. Em casa de padeiro, pão duro. Em casa de contabilista, más contas. Em casa de enfermeiro, feridas ao léu. Em casa... Em casa...

Na minha casa comem-se muitos chocolates, nos dias em que o Outono não chega, quando já se deveria ter instalado. Não aprecio atrasos exagerados, tolero uns minutos devidamente justificados, quando não se tornam repetitivos. Para a semana, antecipo, estarei que nem posso, num arriscado ponto capaz de explodir. Se o sol não se acalmar de uma vez, posso jurar-vos, atiro-lhe com a minha zanga à cara, será uma morte certa. E Santa, que não gosto cá de alaridos. 

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