Há dias em que a minha urgência não se vinga na fome, no cansaço, na rapidez de uma gargalhada ou no desconforto de umas lágrimas. Há dias em que a minha urgência é receber respostas imediatas para as perguntas de sempre. A paciência, a parcimónia, a tolerância e todos os registos calmos da existência desaparecem do meu dicionário, mergulham no breu, confundem-me as entranhas e a minha necessidade de certezas, que rebeldes como só elas sabem ser, aguardam-se escondidas no infinito. Sei todas as lições dos livros. Conheço de cor e salteado todas as regras da calma, da clarividência, da fluidez, da inesperabilidade da vida, da impossibilidade do norte certo, do futuro concreto, do fim previsto. Sei que não há como o tempo para direccionar o percurso, e que não há melhor do que a experiência para nos construir o calo com que vamos cavando a pulso o nosso próprio colo. Mas há dias, repito, em que a minha urgência desnorteia a regra do conhecimento, rebela-me o corpo inquieto, empurra-me para uma espécie de precipício e empurra-me, sem dó nem piedade pela encosta abaixo. A mesma que enfurecida me fere, me golpeia, me massacra, me funde com ela mesma na água que escorre, na terra que salta, nos ramos que parto à minha passagem turbulenta. A urgência nunca me assiste em harmonia. A não ser, raramente, na pressa inconsequente de algum desejo.
Gostei de ler este texto, faz-nos meditar na velocidade contemporânea em que este planeta se movimenta quase à beira do caos. Decididamente temos de ter cuidado com os passos que damos.
ResponderEliminarMuito boa tarde!
Temos sim. Obrigada pela presença neste espaço quase abandonado. :)
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