segunda-feira, 3 de novembro de 2014

tom

Tenho com frequência uns inoportunos achaques de grandeza. Neles menosprezo quem se incumbe de preocupações medianas, como a cor do verniz que vai bem com a roupa, que vai bem com a bolsa, que vai bem com o calçado. Também olho com desdém quem se demora no bâton, levanto o dedo a quem se dá à placidez da existência, renego os que vivem no meio da guerra, sem acto ou imposição. Bem vistas as coisas e é inveja, é inveja o que sinto, da serenidade dos tranquilos na imensidão do desassossego. É que eu mesma aprecio a conjugação de cores, aquelas, as que me escapam, quando a paciência me morreu antes de eu saber do tom. Dai em diante não há critério, há calhar. O lenço que calhou no pescoço, o sapato que calhou no pé, a mala que calhou na mão. Verniz nem vê-lo, mas acreditem que gosto muito. Dá-me um ar cuidado que eu própria desconheço. 


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