sábado, 3 de setembro de 2016

recuos

Faço avanços e recuos todos os dias, vai ficando mais fácil por um lado, muito mais difícil por outro. Dois pontos de análise, só a título de exemplo; lido cada vez melhor com o fim do corpo. Posso chorá-lo, posso amargurar as entranhas, posso sofrer a morte de quem me é querido até ao último respirar de cada dia, mas aceito-o com toda a humildade que a minha existência humana me confere. Mas por outro lado tenho cada vez mais medo do sofrimento, do corpo e da alma. Dói-me até à exaustão do cansaço a dor e a doença, quer ela pouse sobre a forma de uma medição de um corpo, quer ela apareça na subjectividade de um inconsciente enfastiado. Zanga-me, mutila-me, revolta-me, tenho cada vez menos capacidade de aceitar que pode ser preciso sofrer ao limite, para poder existir. Este elástico onde me encontro magoa-me os dedos como uma atiradeira desgovernada, que vai e volta sem parar. Nunca é fácil, nunca há-de ser fácil. Nem mesmo quando julgamos que vamos a chegar a um qualquer lugar de um caminho bom, por termos eventualmente alojado uma pequenina parte da natureza.  

6 comentários:

  1. CF
    Por experiância própria sei que a vida é feita de avanços e recuos. O saldo entre uns e outros é que nos faz perceber que estamos vivos. E saber viver é descobir a formula, variável de pessoa para pessoa, que faz com que aquele cociente avanço/ recuo seja cada vez mais positivo. Tarefa dificílima porque precisamos da coragem de perceber o que é que nos faz mal, embora nos possa saber muito bem!
    Abraço

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    1. Querida Helena, a vida é feita de avanços e recuos, sim, como tão bem diz... Mas por vezes, e por termos entendido e alojado em nós parte da natureza, julgamos que a tarefa vai ficando mais fácil. Bem vistas as coisas, não vai. Avança-se de um lado, descobre-se do outro, mais ou menos como um pequeno cobertor...

      Um abraço para si :)

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  2. os teus textos às vezes não me são nada fáceis.

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    1. Laura, neste falei de coisas tão difíceis... Jamais poderia sê-lo...

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  3. Isto está tão honesto e há muito boa gente que se sente assim.

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    1. Também acredito que muita gente se sinta assim, Leonor...

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