domingo, 9 de dezembro de 2018

beleza

Visualizei, sob a orientação do professor de filosofia do meu filho, o filme " Cidade de Deus", base de reflexão para um trabalho de grupo. Uma lacuna na minha humilde sabedoria não o ter visto antes, uma falha gravíssima, uma ausência de realidade. O filme traça a vida numa favela do Rio de Janeiro, e é um dos confrontos com a vida mais duro que eu já assisti em cinema. Haverá outros, creio, mas este transporta-nos ao que o ser humano pode fazer em situações adversas e violentas, uma ausência de limites tão assustadora, quanto real. - Muito violento, apregoam algumas mães, a respeito dos filhos, homens quase feitos, de quinze ou dezasseis anos. - Muito real, riposto eu, uma estalada na cara de meninos que julgam que a vida é uma escola quase perfeita, onde os telemóveis topo de gama saltam da mochila, mais rápido do que os ténis de marca dão uns passos no chão. Hoje, de olhos mais abertos, talvez aqueles jovens já pensem que o lugar onde se nasce pode ser uma favela, onde a facilidade se confunde com o céu, de tão longe. Olhar de frente o sofrimento tem idade tardia, marcada pelo calendário dos ocidentais, que julgam que é assim que se faz alguém crescer. Uma pena, que o mundo não aproveite para tabelar por uma bitola idêntica, quando tudo começa a doer. É mais uma questão de jogo de escondidas, de estradas acidentadas nos primeiros caminhos, de lugares onde se pode, ou não, nascer e morrer. Pela história afora, as vidas perdem-se como quem lança um berlinde no chão. Por estas cabeças cruas, vamos no apelo do esclarecimento. Fechar olhos a quem já cresceu o suficiente para saber onde está, é meio caminho andado para a ignorância, mais violenta do que qualquer filme.

O mundo não é um lugar bonito. O excesso de cores com que o pintamos de belo é uma maquilhagem perigosa, que leva ao engano. Um engano desastroso, danoso, mortal. Ensinar o desafio de contrariá-lo parece-me o caminho mais difícil, mais tortuoso, mais longo, mas eventualmente o único que nos poderá levar ao que é realmente belo.

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