sábado, 12 de janeiro de 2019

histórias

A mesma pessoa olha-me sempre com os mesmos olhos, os olhos de quem quer esquecer o passado. Constrói um castelo que lhe parece suficiente para erguer uma vida inteira de agora em diante, e de esconder uma enorme, de agora para trás. Fala-me efusivamente das janelas que se abrem para o sol, das camas que se estreitam para o infinito dos olhos, dos recantos que aconchegam ao sabor do lume, do jardim imenso onde as redes se baloiçam numa perfeição qualquer. Não sei ao certo o número de andares, não consigo perceber. Nem o peso do oiro que carrega ao pescoço, a cor das paredes que limitam o lar, ou o cheiro do incenso que se queima na sala. Olha-me demasiadas vezes com a mesma questão, já estou cansada: - conseguirei eu prosseguir, e morar assim tão ausente? Não respondo, nunca lhe digo nada, o passado de cada um é um recanto escondido, em lugares inconstantes. Tanto pesam uma pedra, como pesam uma pena. De modo que nada falo e somente sinto: que o castelo seja imponente e capaz: de matar a dor de uma pedrada, e a saudade de um sorriso perdido.

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