segunda-feira, 10 de junho de 2019

silêncio

Todos os dias leio o jornal. Oiço notícias, folheio crónicas, passo os olhos por receitas que alimentam a gula que acolhe os dias vazios de tudo, numa correria que só quem não corre, vê. Hoje encontro o silêncio na ordem do dia. O silêncio onde nos encontraremos outra vez enquanto pessoas, se ousarmos retirar num hotel por 48 horas seguidinhas, sem interregnos, sem telemóvel, sem televisão, sem conversa ou qualquer chamamento para o mundo exterior. O interior é o foco total, numa busca desenfreada por um caminho que nos foge das mãos, vezes demais. A moderação é feita usualmente por especialistas, que prometem o devido casamento connosco próprios, mesmo quando o par encontrado seja taciturno, mal disposto, enfastiado ou deprimido. Fico feliz com esta oferta, que rapidamente, suspeito, será parte integrante do Booking, do Airbnb ou outros semelhantes, que prometem pacotes completos ao melhor preço do mercado, com pequeno almoço incluído, e, certamente, vista para o mar. Esquecem-se, num erro maior, que o encontro connosco mesmos não se vende em pacotes enfeitados com lacinhos cor de rosa, formatados para o fim de semana, com acepipes e convívios ao fim da noite, na hora da palavra solta. O encontro que vale a pena, o silêncio que nos leva ao encontro do que procuramos, pode vir na calada de uma noite fria, encharcada de lágrimas, ou debaixo do sol de uma serra árida, quente como o lume, a cortar os pés. Pode despertar numa cama, vazia, calada e abandonada, ou numa outra cheia de voz, acompanhada, lida no corpo de quem amamos. O encontro que vale a pena não tem receitas escritas, com quantidades definidas por alguém que julga saber, o que outro alguém precisa. O silêncio que faz crescer, surge-nos dos soluços internos da mente, quando o que sorvemos tropeça no que sabemos e no que sentimos, altura em que, às vezes, desenhamos mais uns escassos metros do caminho. Mas o mundo é de quem sabe, também já sabemos. E hoje qualquer receita rumo à felicidade ganha simpatizantes a mais, nem que para isso se pague um salário redondo, é só um preço. E se tentassem perceber porquê?

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