sábado, 14 de março de 2020

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"É a crise", dizia sempre Albertina, referindo-se à sua vida complicada e difícil, ou não fosse Israel um senhor altivo, imponente, e, por escolha, seu marido. Hoje se fosse viva faria muitos anos, num dia abençoado pelo sol e amaldiçoado por uma crise diferente das que ela conhecia. Não sei se maior, não sei se pior. Resta comemorar em memórias, em cheiros que não esmorecem, em lugares que se encontram desenhados em nós, perfeitos como só o colo de uma avó pode ser. Nunca mais se comeram pastéis de bacalhau, feijão com azeite e coscorões. O segredo era pouco mais do que nenhum, deveria ser mais da cozinha, do lugar, dos bancos da mesa e das mãos que embalavam tudo com uma mestria maior: a do amor aos netos. Os avós são logo a seguir aos pais, o início de tudo. Terminam primeiro, vão para o céu, como que para nos ensinar que dentro da nossa existência, o que nos segura é o que não se vê.

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