sábado, 19 de dezembro de 2015

chorar

Quase sempre choro nas festas das criancinhas, basta entrar e vê-las no palco aos saltinhos a cantarolar desafinadas uma música de Natal. Ontem não foi excepção. Chego e encontro o pequeno vestido de rato Mickey, com um rabo comprido a tocar-lhe na nuca e umas orelhas gigantes presas na testa. Entretanto começo a olhar ao redor e a encontrar pais a acenar cheios de carinho, com o ar ridículo que rodeia o amor. Mulheres e alguns homens feitos, de fato, calça vincada e gravata, alfinete e botão de punho. Os pequenos, cheios de esperança, gesticulam entusiasmados com a chegada do pai natal, e é mais ou menos nessa altura que começo a brindar-lhe a ingenuidade. Deveria ser proibido crescer neste mundo. Qualquer dia, daqui a pouco tempo, descobrem que não há trenó de brinquedos, que os pais fingem muita da alegria que transbordam, que os sonhos não morrem nunca, mas nunca mais chegam, e que a moral da história traz sempre de arrasto uma lágrima de tristeza. Não me incomoda a dita, também devo confessar, sei que sem ela não se avança, não se cresce, não se contrabalança, não se evoluí. O que me dói, sei perfeitamente o que é. É olhar para elas e senti-las tão ingénuas ao ponto de achar que deveriam ser protegidas dos males do mundo, é escutar as suas palavrinhas e saber que são falsas porque na verdade não há estrelas no céu para as proteger, é olhar os seus olhinhos e sentir que espreitam o impossível do sonho. Eu sei, a vida é esperança e o crescimento é isto. Sou só eu que aprecio chorar a beleza do amor, muito mais facilmente do que choro qualquer outra realidade, com direito a baba, ranho, lenço e soluço. Uma tristeza visível e risível. Tanto que até a mim me dói.

4 comentários:

  1. É essa ingenuidade que torna o ar mais leve para se respirar. E assim vamos vivendo... Mesmo naqueles lugares mais difíceis. :)

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  2. As crianças transportam-nos para o mundo delas e sabe tão bem....

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