sábado, 20 de outubro de 2018

livro

D. Alice diz-me sempre que há livros para ler de noite, e livros para ler de dia. Nunca lhe dei grande crédito, confesso, muito embora vá trocando com ela inúmeras sugestões de leitura. Passado uns anos, acho mesmo que terei de lhe dar a razão da convicção. Andava há noites a insistir num livro complexo, enfadonho, sábio, mas muito difícil. Sempre que lhe pegava encontrava reunidas inúmeras sensações, desde o conforto do conhecimento, à insegurança da incompreensão, tocando de perto a beleza das palavras, e fugindo rápido das metáforas encriptadas, injustas para quem aprecia uma boa comunicação. Tomo  a consciência de que sou persistente, em diversos domínios da vida, um defeito, tal e qual a gula, entre outros de menor monta em termos de peso real. A persistência é o caminho do êxito, dizem alguns sábios, certos do trabalho a efectuar no caminho da evolução, esquecidos de que a desistência, também poderá ser uma virtude (ou  a adaptação, ou a substituição). Desde que abandonei aquele livro e me dediquei à simplicidade, que a minha vida ficou mais clara, mais limpa, mais lógica, mais possível, mais certa de que não se deve partir, para não vergar. É claro que há dias em que tenho de lá voltar. De manhã cedo, mal acordo, antes de enfrentar o cansaço do dia, abro uma página ao acaso, leio umas linhas e percebo com a clareza da manhã, que a vida pode ser mesmo muito difícil de ser lida. Perco uns minutos nesse exercício, enquanto o café me acorda quase tanto quanto o livro me intriga. Abandono a chávena até ao dia seguinte, e o livro até qualquer dia (nunca se sabe quando precisarei de voltar).

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