quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

francisco

Francisco é dos meus paciente preferidos. Desengane-se quem acredita na isenção total de tendências, é um mito igual aos outros. Que eu tenho compromissos profissionais com todas as pessoas quem me procuram por questões terapêuticas, é um facto. Que tento a todo o custo e em qualquer circunstância dar o melhor de mim, é a realidade, que me esforço por escutar com a mesma empatia todo e qualquer sintoma, é uma verdade. Mas não posso proferir que todas as pessoas me cativam da mesma forma. Aparece-me sempre com o mesmo ar gingão, de quem procura encontrar até onde pode ir neste mundo duvidoso. Há muito que me avisou que vai ser psicólogo, o despiste vocacional confirmou-me as suspeitas, com algum grau de certeza credível e certificada. Confessa-me que vai muitas vezes a pensar no que falamos, que me procura frequentemente a técnica, o objectivo, o fio condutor, já chegou a detectar-me um ou outro passo em falso, não lhe falta inteligência nenhuma. Não gosta da escola. Não tem paciência para as aulas nem para os professores, abomina matérias específicas, duvida da filosofia porque o questionam severamente quando afirma sossegado que está a olhar para a janela, porque precisa de pensar. Na escola não há lugar para a sua mente inquieta. Sabe de cor os misticismos do mundo, conhece as sabedorias dos grandes mestres, percorre os pensadores e questiona-os, meu Deus, questiona as verdades absolutas que se escrevem nos livros, se vendem na doutrina, se encontram certificadas com selo e patentes registadas. Olho para ele quase embevecida e sinto vontade de encontrar mais miúdos assim, insatisfeitos, curiosos, valiosos. É claro, é claro que as escolas estão fartas desta gentinha que pensa além manual e se afirma como gente. Lamento, tenho imensa pena de quem assim se sente afrontado. Mandem-mos todos para os meus consultórios, aceito-os de bom grado, sem limites de retenções, ou garantia de disciplina. Sempre me dei bem com a insaciedade do saber insatisfeito com a métrica. Nunca percebi o porquê da escola não o premiar, com quadros de excelência. 

5 comentários:

  1. O procurar saber além manual sempre foi um problema para mim, gostei do Francisco. Identifiquei-me.

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    1. O Francisco é um rapazinho encantador. Só a escola não quer saber disso...

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  2. Concordo com tudo o que disse. Tenho bastante do Francisco. E sinceramente, o mundo perde muito quando não nos observa. Um abraço! :)

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    1. Perde o mundo e perdem os Francisco... É um problema global...

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