terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

um dia destes vendemos DSM no quiosque do jardim

Hoje em dia temos uma tendência brutal em colocar patologia na normalidade. Abafamos os milhões de canários possíveis e adaptativos do ser humano, e tendemos a considerar um padrão único e insubstituível, fora do qual o rótulo se instala com uma linha de nylon resistente e de extracção difícil e dolorosa, mas com uma incidência extremamente incómoda no corpo em caso de permanência. Sendo assim um pequeno desajuste assume carácter de doença, um comportamento alterado sofre acusações desviantes, uma tristeza maior entra directa no campo do estado depressivo, e uma euforia exagerada pode muito bem ser empurrada, sem dó nem piedade, para um registo de consumo ou uma mania, certamente crónica e incurável. É neste registo que muitos nos movemos. Para além dos médicos que abusam dos estabilizadores de humor, temos hoje um Pais de pessoas que sabem cada vez menos escutar a diferença da normalidade produtiva, perfeitamente adaptativa, e que resolvem apertar cada vez mais o cerco da tolerância saudável, reduzindo ao mínimo limite a individualidade. Precisamos, gritamos cada vez mais por uma realidade onde um berro não seja olhado com olhos de horror, e onde uma criança que não consegue estar quieta seja olhada como uma criança, e só como uma simples criança, sem nomes pomposos de arrumação de défices. Onde um adulto solitário tenha um lugar para pensar, e onde um jovem com ânsia de respostas sinta todo direito de perguntar, de questionar, de contestar e de desviar. Este meu mundo necessita urgentemente de terapia adaptativa, não vá imbuir-se de um rigor maior e começar de uma vez a matar as pessoas, as verdadeiras pessoas, as genuínas, as reais, as perfeitamente "normais", libertando somente as mentes pseudo-saudáveis, a matemática e o estereótipo, o certo e o errado. Aí sim a mais pura das loucuras, meu Deus.

2 comentários:

  1. É daquelas coisas em que estamos claramente a caminhar para pior. E contrariar esse movimento? Uma luta.

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