quinta-feira, 14 de julho de 2016

verão

Costumo fartar-me do Verão com a mesma rapidez com que engulo uma cerveja gelada quando o calor aperta. Sinto pouca simpatia por dias de sol aberto e quarenta e picos, tenho muito mais predilecção pelos de Primavera que entretanto tendem a desaparecer, as tardes frescas, as brisas ligeiras, os vinte e poucos, parece que algum diabo engoliu tudo isto e nos deixou entregues ao rigor do frio e do calor. Já as noites mornas são sempre bem vindas. Há esplanadas que nos devolvem alguns anos de vida, quer seja na beira de um mar, perto de um rio, com vista para um regueiro de salmoura, ou no meio de um jardim batido pela noite. Normalmente neste altura do ano começo a penar pelo Outono. Já estou ligeiramente farta de dias longos e de gente demasiado grande, que faz vida da vida alheia, sem perceber que está a ocupar muitíssimo espaço. No Inverno, tudo isto se recata. As pessoas recolhem cedo, faz-se noite antes das seis. Escondem-se em sobretudos compridos, espreitam pela nesga do cachecol e do carapuço, bebem chás calmantes de camomila e andam depressa porque a chuva atiça os passos e não deixa margem para grandes divagações. Até porque a escuridão é inimiga das conversas de vizinhança, das que não interessam nem ao menino Jesus. A miudagem entra cedo na escola, são precisos jantares, banhos e outros trabalhos, roupas para o dia seguinte, mochilas e sacos de treino. Deitar antes das dez para que tudo durma cedo, quem sabe à quarta feira se distraia um pouco o corpo, é meio da semana, há perdão, mesmo que no dia seguinte custe ligeiramente a levantar. O excessivo ócio parece-me um verdadeiro inimigo da grande maioria do povo. Para ser salutar é preciso que primeiro o corpo se canse, caso contrário entra directo no estômago e liberta indecências, impropérios, invejas e maledicências, mal estares vários e palpitações de espírito, impossíveis de sossegar. Prefiro o Inverno, desde sempre. Vivia nele todos os dias do ano, intercalado com meia dúzia de dias amenos, lá pelo meio, só para que as línguas não morressem presas, e para poder vestir uns belos vestidos de verão. E libertar as pernas, claro, que quanto a mim é muito mais saudável do que soltar a língua sem moderação.

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