segunda-feira, 25 de julho de 2016

para que serve uma onda?

Olho demoradamente para o horizonte azul celeste, mas depressa me fixo nos rapazitos que apanham carreirinhas ao entardecer. A água é das que arrefece só os grandes, porque na verdade se entranha nos anos que passam, enquanto que nos mais novos escorre pela pele, tal e qual como a vida que passa e não pesa. Olho fixamente para a liberdade em movimento e penso na imperfeição da natureza. Dizem os entendidos que aprendemos com o tempo e com os livros. Dizem os livros que a experiência torna a existência mais fácil, mais eficaz, mais objectiva e significativamente mais direccionada. Diz a experiência que os velhos são donos de um lugar de sabedores, têm paciência, sabem esperar, conseguem o calo dos trambolhões dados fora de horas, quando não se estava preparado para os receber, nunca na vida queremos ir ao asfalto. Quanto a mim, não há erro maior. São os pequenos, detentores da espontaneidade e da ignorância, os mais sabedores disto tudo. São eles que não sentem o frio da água, o medo da alegria, o crivo da discórdia, e são eles que gritam genuinamente quanto vem lá mais uma, prestes a rebentar e a transportá-los até à areia, o único destino possível antes do cansaço. Eles não sabem, mas roubei-lhes energia até ao tutano dos ossos. Rapei inúmeras gargalhadas, engoli todos os gritos, usurpei a velocidade furiosa nas carreiras e juro-vos, provei o gosto do sal, à distância de muitos anos passados a olhar para aquele mar. Não há voo mais alto do que o da crista de uma onda, tenho a dizer. Pertence à criançada, dezenas delas, em fila, a correrem depressa para a areia da praia, para segundos depois começarem tudo de novo, à espera de uma onda maior. Só pode ser ali que se aprende a sonhar.

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