sexta-feira, 20 de setembro de 2013

pés de igualdade

Henrique é um depressivo crónico que me lê os estados de espírito com a clareza da água. Funga uma vez quando eu estou bem, funga duas ou três quando não estou. Por vezes tento trocar-lhe as voltas mas nunca consigo. Nessas alturas esfrega os dedos no cabelo como que a querer dizer-me que não o engano. 
Há pessoas que me conhecem há anos e raramente me lêem. 
A minha gata cheira-me e esfrega-se nas minhas desordens, mas julgo-a egoísta, nada a ver com o meu cão. Os animais são muito diferentes uns dos outros e as pessoas também, como se pertencessem todas a espécies diferentes. 
A doença mental sem perca de lucidez desenvolve uma perspicácia desconcertante, e a invasão do meu espaço por parte de quem não deve, incomoda-me. A ausência de sagacidade por parte de quem está próximo, também. As duas em pé de igualdade. Engraçada, é a vitória de uma suposta limitação sobre a desejada normalidade, no campo das relações em sociedade.

( Os gatos são normais e os cães são depressivos crónicos. Nada mais óbvio.)

2 comentários:

  1. Precisamente pelas limitações que têm, desenvolvem outros, chamemos-lhes, dons. O rio encontra sempre outros caminhos para chegar ao mar...

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    1. Também acho que é por aí. A excessiva reserva interna desenvolve competências imensas, que passam várias vezes despercebidas... Basta deitarmos um olho aos grandes génios da nossa história...

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