segunda-feira, 25 de novembro de 2013

prioridades

Enervo-me comigo mesma quando deixo a vida inverter-me prioridades. Bem sei que não posso deixar de tentar ser feliz porque morrem crianças vítimas de tortura, mas posso bem tentar reorganizar o valor das acções onde me centro de forma mais consciente. A inconsciência é um sítio onde entramos quando permitimos a invasão de um qualquer adulterador de um estado de sanidade digno de referência. O egoísmo pode ser um deles, mas há muitos. Tantos, nunca mais acabam. Depois também há isto. E há ainda uma cena de pancadaria à qual eu assisti em directo da janela da minha casa, com gritos e ofensas dirigidas. E murros e pontapés, e mulheres aos gritos. E degradação. Não gosto de violência, nunca gostei. Consigo destilá-la em situações específicas, muito embora me sinta sempre ofendida na minha integridade. Quando extrapola para a lei do mais fraco, perco as forças. Fico com uma indisposição nauseada que afecta o meu estado físico e o meu estado mental, talvez  porque a inclua numa questão gratuita, sem precedentes. Uma criança é um ser indefeso, aqui, na Síria, na China e na lua, e quem atenta sobre ela é uma pessoa má. É por isso que eu acho tão importante dotar quem cresce de prioridades. Mesmo que elas se invertam vida afora, invertem sempre, mas pode ser que se invertam menos um bocadinho. Não há magias, actos alargados que movam montanhas, caminhos potenciadores de acabar com o mal do mundo, eu pelo menos não conheço. Mas há a acção pequenina da porta para dentro, que pode fazer com que a importância do respeito reapareça nos lugares de quase morte. Não roubarás, não matarás, honrarás o teu pai e a tua mãe, não cobiçarás os bens do próximo, parecem ditos antigos de obstinação bíblica, mas a verdade é que são condutas de acção urgentes para que o mundo se reorganize outra vez. Se é que isso existe, se é que alguma vez houve, se é que pode haver. Não percebo, honestamente não percebo a nossa incapacidade de foco no essencial. Um certo desfalecimento da coerência perante a veleidade caprichosa, que só reaparece quando a vida resolve colocar à prova a nossa existência. Nessa altura somos todos conformidade, todos consciência, muito embora com efectiva possibilidade de novo desmaio significativo. Nunca aprendemos, a não ser a fazer contas de matemática, a saber o nome dos rios e dos mares, a conhecer a gramática portuguesa, entre outras questões culturais de segunda necessidade. Também sei que a proximidade com a violência nos tira a capacidade de raciocínio. Perdemos a definição e entramos em choque entre a justiça o resto. Que fazer para acabar com ela, senão usá-la no seguimento? Mais ou menos o mesmo que se usa na educação dita normal: a criança levanta a mão e leva uma palmada. Aprende a autoridade, ou seja, percebe claramente quem nada mais. Mas percebe ainda que quando crescer, também pode bater. Daí à violência e ao abuso vai uma enormidade, pois claro, e antes que se insurjam as vozes pedagógicas anti psicologia da educação. Ou pode até nem ir, depende. Fazer coisas que contrariem actos de prepotência é que faz muita falta. Aos nossos filhos, ao nosso País, ao mundo no geral. Tudo vale para um recomeço. Matar mulheres aqui ao lado e crianças na Síria, é que não. Isso, jamais poderá valer.

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