A moral do ano é infinita. O balanço pertence a cada um, que não exista ócio na hora de nos debruçarmos sobre nós e sobre os outros. Retirei dele inúmeras situações, poucas conclusões, algumas memórias internas e eternas para a minha vida. Estou grata por tudo, é um facto, curiosamente muito grata por algumas coisas menos boas que sucederam. Nunca como hoje tive definido com tanta certeza, o que quero ter longe de mim. Com respeito, porque o mundo abraça todas as opções de vida, claro. Mas eu não sou o mundo, sou só o meu mundo e o dos meus. E é tanto, que me chega.
O que me faz reflectir... Todos os textos que aqui publico são de minha autoria, e as personagens são fictícias. Excluem-se aqueles em que directamente falo de mim, ou das minhas opiniões, ou onde utilizo especificação directa para o efeito.
quinta-feira, 31 de dezembro de 2020
sábado, 12 de dezembro de 2020
certezas
As certezas absolutas são mais privadas do que o nosso corpo, por isso acreditamos tanto nelas. O nosso corpo é partilhado pela vida, pelos outros, molda-se a um abraço, a um toque, a uma esquina cheia de gente ou a uma rua vazia, carregada de nada. As certezas não. Formam-se na mais interna existência, ganham consistência com os dias, com a verificação da verdade, com o cristalizar da guarda e com as crenças que se afiguram como o caminho preciso a seguir: é por ali. Curiosamente, traem-nos à velocidade da luz. Quando menos esperamos, quanto mais certos estamos, à custa de pouco ou de nada, eis que se anulam a elas próprias, fátuas como a neblina, como se nos quisessem fazer consciencializar que a volatilidade é a única certeza do mundo ( o que transforma a dúvida, na única e permanente verdade).
quinta-feira, 1 de outubro de 2020
Vitória
Sentado à minha frente, com o seu metro e sessenta, quase me aniquila o engenho. Sorridente, bem falante, bem disposto e bem sucedido, articula as palavras com uma simpatia inusitada, como se de repente deixasse de ser quem é e se tornasse em outro alguém, distante da prepotência usual. Estou habituada a eles há muito tempo, mas curiosamente senti-me fraquejar. A primeira sensação foi de medo. O que seria aquilo, estaria eu doente, fraca, dependente ou pouco eficiente? Por que raio agora, anos volvidos, experiência feita, postura identificada, diagnosticada, atestada e comprovada, vergo que nem uma vara, capaz de dar o benefício da dúvida à cruel criatura que se senta à minha frente? Parei para pensar. Sosseguei as dúvidas, serenei a esperança, recuperei o fôlego tropeço e levantei a guarda, a única que sempre me salvou em aflição. Funcionou, contas feitas, tudo acabou bem. A criatura, imponente na astúcia, mas parca em real engenho, terminou a guerra ciente da vitória. Eu, cabra velha e manhosa, deixei-a a acreditar nela.
Não há nada que me dê mais gozo, do que as medalhas que ninguém vê.