segunda-feira, 30 de maio de 2016

norte

Ao fim da noite de ontem recebo uma notícia esperada, mas mortífera. Morreu o neto de uma amiga, com seis meses de vida, vitima de uma doença rara. Ligou-me em soluços, e eu, que julgo tratar estas questões por tu, pelo nome próprio dado por quem cá vive, fiquei no momento sem palavras para lhe dar. Estanquei ali estupefacta, a escutá-la, incapaz e impotente de a salvar ao sofrimento. Cada vez mais descubro que não sei nada desta vida. Nem da morte dos outros, nem da dor de quem cá fica. Houve alturas da minha existência em que não julgava nada disto, sentia-me capaz de aprender muito, enquanto a vida me deixasse. Hoje vejo tudo exactamente ao contrário, não aprendo coisa nenhuma em concreto, não há verdades puras, não há receitas infalíveis. Há pessoas, há mundo, há sorte e há azar, há bondade e há maldade, há vida e há morte. Concluo que tudo isto são grandezas que se podem explorar, tentar compreender, analisar e dissecar, mas nunca controlar. Concluo ainda, ferida, que os afectos nos turvam demais a intelectualidade. Permitem-nos o toque e a partilha, mas matam a competência real, quando quem nos é próximo perde o norte. Não há dúvida nenhuma, perdemos também. Não deve haver destino sem esta deriva.

2 comentários:

  1. Mas também foi porque nos perdemos que demos com novas paragens. Eu acho que o MEC resumiu isso genialmente: "como é linda a puta da vida".

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