sábado, 23 de julho de 2011

Ofensas

Soa-lhe sempre a mau gosto, comentários depreciativos referentes à sua pessoa. O homem do café evidencia-lhe as olheiras, reveladoras de um cansaço já crónico e inultrapassável. A velha da loja, as coxas, grossas e rebeldes, tal qual as dela, que também sempre assim foram. Agrada-lhe especialmente esta crítica indexada ao corpo de quem a profere, dita de forma ténue, ou seja, a acusação surge acompanhada, pela própria pessoa que a dita. Logo, será muito melhor aceite, na ausência da solidão. A sua mãe olha-lhe de revés para uns cabelos loiros, de caracóis e em desalinho, que valeu-lhe a cor, ao senão, seria comparado a um ninho de ratos, assim, parece mais um de pássaros, que ao menos voam. Palavras dela. A que se diz amiga, acentua-lhe a teimosia infinita, transportando-a para um extremo pouco visto. Esta capacidade alheia de a elevar aos píncaros nos quais não traçou nem meio caminho, também a intriga. Elevassem-lhe assim o Ego, que se encontra mortiço, apagado, perante a panóplia de dissabores que lhe atiram todos os dias, sem qualquer tipo de artefacto. Poderiam até fazer uso de algum, como uma daquelas atiradeiras do antigamente, compostas por um pauzinho côncavo e um elástico, onde se colocava o objecto a atirar, e que muitas das vezes falhava o alvo. Com ela não, que tudo lhe acerta. Numa estranha parte do seu corpo que ninguém vê, ninguém escuta, ninguém percebe. Mas que está lá. Qualquer dia, encolhe e desaparece.

1 comentário:

  1. :):) Em tempos idos, numa situação similar (talvez não semelhante :))alguém me perguntou porque é que eu deixava. Que é como quem diz: porque é que se põe a jeito?! :)

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