terça-feira, 30 de outubro de 2012

Rimas

Lembro por exemplo as lengalengas de infância que eu ouvia até à exaustão da boca da minha avó. Ou as histórias, sempre as mesmas, as minhas. Um conforto para o corpo, vá perceber-se. Representarão eventualmente uma precoce precisão de familiaridade, de interiorização, de embalo por continuidade, uma acomodação do corpo e do espírito ao que conhecemos e nos soa tão bem. Será isso? Será que, e extrapolando, nos fazem falta sucessões de rimas que se afiguram nossas, e que repetidas nos amenizam as ânsias da alma e do corpo, e nos transportam em permanência para o que sabemos, mas que necessitamos amiúde, de voltar a saber? E a sentir?

(por rima entendo o que na vida se encontra em harmonia comigo, inteira. é pessoal e intransmissível, o que faz com que seja sempre somente minha. porém no seguimento é possível, isto quando olhos olham para dentro de outros olhos, como que numa astúcia da magia, encontrar uma única onde cabem dois corpos. e haverá lá conquista maior do que esta?)

...

Se o arrependimento matasse havia muita gente que não estaria aqui. Já se teria esvaído, feito em partículas de nada, voado numa ventaneira daquelas que não se vêm mas que se sentem com uma força capaz de arrancar corpos ao mundo. O senhor Vítor, por exemplo,  um velho alto e muito magro é uma dessas pessoas. Desde há muito que presenteia a mulher todas as segundas, quartas e sextas com arrepiados de amêndoa, celestes de Santarém, broas com nozes e cálices pequeninos de vinho do Porto que a ajudam a empurrar para baixo as gulodices trazidas em mãos e entregues na boca, as mesmas mãos que em tempos lhe deram outros tratos menos meigos, menos atentos, menos dedicados. Fala porém nisso com uma clareza de cortar a respiração. Entrega-se ao passado, revive os dias, as horas e os minutos, deixa que lhe escorra pelo sangue os actos que cometeu e encarquilha-se perante o próprio génio, diria até que quase que lhe sucumbe, tentando então e em desespero confiar-se ao perdão, não ao de alguém, mas à sua própria absolvição. Os ensaios de remissão de culpas perante nós mesmos devem de ser uma das cargas maiores que poderemos transportar em peso nos ombros. Não deve ser fácil esquecer o delito, não se deve mitigar com procedimentos abonatórios dirigidos ao alvo da culpa, não se deve afrouxar com o passar dos anos, pelo menos enquanto se encontrar nos olhos em questão o peso da pena. O peso da pena parece nascer tardiamente em alguns corpos que vieram ao mundo. Aliado à contrição é qualquer coisa que não deveria existir, por acartar dores evitáveis. O peso da pena aliado à contrição deve vergar em demasia, que só isso justifica excessivas dedicações nascidas em completa inversão dos actos, e em consciência. Este, e em particular, vive imergido em bolinhos doces e bons que adoçam a boca de uma mulher que vive encolhida num sofá de braços castanhos, enquanto o marido entra e sai, às segundas, quartas e sextas e em mais dia nenhum, sem direito a qualquer excepção, que os restantes servem para arrumar a casa, estufar ganso de vitela no tacho e zelar pelo arejamento das divisões. À quinta, invariavelmente, compra rebuçados de mentol verdes numa mercearia da cidade, que distribui à sexta por todas as pessoas pelas quais passa, quem sabe se para tentar sufocar ainda mais alguma interna questão.

domingo, 28 de outubro de 2012

...

A sala não caiu de velha nem de êxtase, aguentou-se impávida e ruidosa perante a exímia voz do Manel Cruz. Misturam-se gerações perante um mesmo propósito, o que é sempre um acontecimento de relevo. Para os novos poderá ser estranho, eventualmente sentido como uma intromissão de gente muito crescida que ainda se julga capaz de ouvir música da boa. Digo eu que seja isso, não sei bem, não me lembro e hoje já estou do outro lado. Do lado que acha o máximo os miúdos de dezoito ouvirem o que eu ouvia aos vinte, muitos anos depois. Mas os miúdos de hoje estão diferentes, ou então fui eu que tive sempre muita sorte com os amigos que arranjei na minha adolescência. Sou uma pessoa de sortes, já tenho pensado e gosto muito de continuar a sentir isso. Não me parece possível que algum dos meus amigos tivesse a insensatez  de me deixar a cambalear ao Sábado à noite, com a fácil frase chega bem a casa. E se ela não chegou, como é? E se no caminho teve azar e encontrou alguém de má vontade, como terá sido? Mas o que raio é isto de se ter dezoito anos, vestir calções muito curtos com saltos muito altos, beber muito e voltar sozinha para casa? E ainda ter uns amigos que gritam chega bem enquanto a porta do metro apita e se fecha, levando-os todos lá dentro, ficando apenas ela na estação? Não sei, não sei o que é mas soa-me a estranho. Quando eu tinha aquela idade e na pacatez da cidade de interior, o grupo colocava as raparigas em casa sem ser preciso alguém ter bebido o que quer que fosse. Era barulhento e passeava pelas ruas, uma tormenta para a vizinhança mas um sossego para os pais. Agora não sei muito bem o que sossega os pais. Os pais têm cada vez menos sossego e talvez até tenham razões para isso. Não quero generalizar, acredito que haja muitos bons amigos nos jovens de hoje. Quero até acreditar que aquilo foi uma situação pontual que por um mero acaso encontrei, onde se juntaram erros típicos da adolescência, todos convergidos num único momento. Mas é que se não foi só isso, hipótese também a considerar, alguma coisa está muito errada por aí.

sábado, 27 de outubro de 2012

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

...

Existimos, mas é dentro do nosso corpo. O que deitamos cá para fora é o que sabemos ser certo dizer, ou ainda, e indo mais longe, o que conseguimos converter em palavras. Não quero com isto indiciar que dizemos coisas despropositadas, mas só que o que sentimos é bem mais complexo do que aquilo que se pode expedir, ou até mesmo tentar dar, ordenado, em frases seguras e lineares. 

(Até mesmo porque as palavras, e agora extrapolando, nunca dizem tudo, por muito que sejamos detentores de um léxico surpreendente. Isto porque conseguimos sentir para além do razoável, cá dentro somos perfeitamente ilimitados. Da boca para fora obedecemos a padrões, o que é por si só uma valente contenção.)

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Questões

Hoje na Antena 1, o Professor Júlio Machado Vaz falava, indignado, sobre um estudo que apontava para alterações significativas no Homem a longo prazo. Uma delas, entre outras, será a diminuição do tamanho do cérebro, porque pensamos pouco. Outra, o aumento dos olhos. Porque falamos cada vez menos, o que nos coloca em necessidade de captar a realidade de forma visual. À parte das alterações que isso nos possa trazer em termos de fisionomia, também fiquei indignada. Não me imagino de forma alguma com uma cabeça mirrada e uns olhos a sair das órbitas, é um facto, mas isso não deixa de ser pormenor, perante a dimensão da situação. Que somos adaptáveis às circunstâncias todos sabemos, já há muito que Darwin nos levou até esse maravilhoso mundo, mas daí a considerarmos a diminuição do cérebro vai qualquer coisa que pode dividir evolução de desconforto.
É um facto que considerar alterações diversificadas no nosso corpo pode sempre deixar-nos ligeiramente apreensivos, angustiados, entregues ao vazio do desconhecimento de causa, nunca nos vimos de outra forma a não ser nos livros da pré história. Não chega, não chega para nada, é passado, não é futuro. O que seria de nós sem um qualquer dedo, de braços muito mais curtos ou muito mais compridos, com um estômago maior ou com um coração que bate cada vez mais depressa só porque corremos a cada minuto do dia? Pois, não sei, não me debruço muito sobre isto, e até considero que nenhuma delas alteraria consideravelmente a minha hipótese de felicidade. Já o cérebro, pois... Todos gostamos muito de saborear com a boca, tactear com os dedos, de ouvir com os ouvidos e de sentir no peito, mas a verdade é que o cérebro nos comanda a vida, tudo isto incluído. Admitir que pode encolher remete-nos para dois pressupostos, basicamente, e encarando uma abordagem simplista da questão. Ou consegue aperfeiçoar-se, elevando ainda mais ao apogeu da existência o órgão mais perfeito que reunimos no corpo, não sendo essa a conclusão. Ou deposita em reservatórios externos informação considerável  a fim de poupar trabalho interno, que parece ser a teoria defendida. Criamos, e de acordo com o estudo, cada vez mais máquinas para nos auxiliarem em tudo e em nada, devidamente compartimentadas e capazes de nos orientar sem esforço pessoal, a não ser o da organização e vamos por isso ficando mais leves. Irão morrer-nos no seguimento os neurónios desocupados, não nos fazem falta, não serão mais precisos. Para quê armazenar milhões de ligações completamente dispensáveis se podemos criar cá do lado de fora todo o tipo de auxiliares que nos libertem de preocupações, de sítios ocupados no corpo, de ligações sinápticas complicadíssimas que uma vez mortas só ocupam espaço? Encolhemos, dizem, e eu, quiçá influenciada pelo professor, também fiquei indignada. Nem questiono os pressupostos analisados, sequer a probabilidade de efectivamente nos encaixarmos em tempos vindouros nos pressupostos em questão. Mas é que se há sítios do meu corpo que prezo ao infinito e que merecem ser encarados com respeito, o meu cérebro é um deles. O restante que acresce, e ainda que dignas pertenças minhas, não passa de circuitos, órgãos, lugares e ligações, que se unem a ele em perfeita sintonia de acção. Em complementaridade, certo, mas em subordinação. Não sei ainda, e só para rematar, se o dito saberá exactamente o que deve deixar morrer. A crer na perfeição da evolução saberá, mas vamos que se engana, e deixa ir o que não deve?

( A vir, virá longe, dirão, para quê a preocupação? Para nada, digo eu. Não gostei da ideia, foi só)

terça-feira, 23 de outubro de 2012

E diz que vem lá,

a chuva...

Batata doce

Agora são as batatas doces que assam no forno e deixam a casa inundada de um cheiro bom que convida ao palato. E é só. Em tempos, lembro-me perfeitamente, eram esmagadas com um garfo que as reduzia a um puré delicioso que serviria para a confecção das broas dos santos, que estão quase quase aí. Agora compro-as porque já não tenho quem me as faça. Há coisas eternas que quase se esquecem no tempo, porque as modernidades lhe atenuam a existência. Nem serão apenas elas, será eventualmente a falta das gentes que as vivia, muito a fundo e sustentadas nos corpos, o único sítio onde tudo pode viver e acontecer. Aqui, por exemplo, já não vivem as mãos que faziam os coscurões grossos de massa lêveda, que se tendiam com rolo de madeira na mesa velha da cozinha. Já não vivem os braços que os amassavam, horas a fio, benzindos a sumo de laranja e água ardente, a massa que depois descansaria entre o sossego a reza e o calor, no quarto escuro do fundo da casa. Já  vivem mirradas as outras que esmagavam a batata doce e tenra, que se transformaria em broa macia e gostosa que amolgava em cada dentada. O forno, o próprio forno da velha do lenço, deve de ter morrido com ela, no vazio do desuso e da solidão. As tradições dos povos não morrem com o tempo, morrem com os corpos que as viviam. As que fizermos viver viverão para além de tudo, haja-nos vontade e empenho, aqueles que por vezes nos fogem e nos deixam em ares de contragosto. Momentâneo. Valorizamos outras grandezas, outras questões, é o síndrome do aperfeiçoamento que nos vive nos corpos e do qual não nos queremos libertar, assumidamente. Nem sei se tal seria possível, tendo em conta que se considera que o retrocesso é sempre o inverso da evolução.

(Mas depois por vezes há dias em que a memória nos resvala para dentro do corpo e em que uma certa nostalgia nos faz lembrar que existem cheiros e gostos insubstituíveis, como o do ovo batido, por exemplo, misturado com a massa da broa, antes e depois da entrada no forno. O meu filho, daqui a anos, lembrará apenas a batata assada no forno da cozinha, nada de lenha, que não é precisa, enquanto no fogão da altura se cheirará outra coisa qualquer. Melhor, ou no mínimo, mais evoluída.) 


segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Mútuas adaptações.

Anda....
Já vou...
Anda...
Vou já
ANDA!!
Não percebes... Chamas-me sempre antes do tempo, e eu já sei que posso ir só passado um bocadinho. 

(Não sabe que eu chamo com antecedência porque ele nunca vinha à primeira. Ou se calhar sabe mas já não se lembra, porque há muito que eu como estratégia, o chamo com antecedência.)

Começo a convencer-me de que há coisas que começaram cedo. A chamada para o jantar, por exemplo, chamo com alguma antecedência desde há muito, logo, foi uma coisa que começou cedo. Culpas? Não me prendem, prendem-me antes coisas que começaram cedo, muito embora não descarte, de todo, alguma culpa no cartório. O mundo é um local no qual nos adaptamos uns aos outros. Na minha casa eu e o meu filho adaptamo-nos mutuamente, e somos uma ínfima parte de tudo. O mundo, todo ele, circula envolvido em questões de acomodação e daqui poderemos retirar mote para inúmeras discussões que não me apetece por ora iniciar. Mas podem pensar nisso, se quiserem. É útil e pode levar a consciencializações pertinentes. 

domingo, 21 de outubro de 2012

...

O pensamento, ainda que constituindo a nossa maior manifestação de identidade, pode limitar-nos a existência. Não a existência de sermos, seria uma total incongruência eu ousar dizer tal coisa, logo eu que o respeito ao limite do razoável e o considero o maior aliado da evolução, mas a existência do sentir. Os sentires serão eventualmente o local do corpo onde a nossa natureza nasce desembestada, própria, unicamente nossa e onde a ligação ao exterior experimenta o nosso eu. E vice versa. Por sua vez o pensamento, local onde internamente trabalhamos o mundo, não só interno, como também externo, assume-se sempre como um lugar viciado, cravejadinho de pestilências diversas, verdades de rua, contaminações. Daqui apetece-me concluir, de forma abusiva, eventualmente, que o desligamento efectivo do raciocínio aquando da sensação, talvez seja o caminho mais próximo para a genuinidade. E para a consequente vulnerabilidade. Felizmente que o nosso corpo consegue o apanágio de existirmos de diversas formas alternadamente, o que nos permite os mais diversos tipos de experienciação. Ao mesmo tempo que nos abre os caminhos do raciocínio, deixa-nos completamente em aberto a competência para a sensação. Nós só temos que o saber viver.

Aqui, podem ler uma extraordinária entrevista, onde se disse, entre outras coisas dignas de serem lidas, que as crianças estão demasiado próximas da infância para se aperceberem dela. Ou algo parecido com isto, que os grandes deixam-nos sempre em legado demasiadas coisas, feitas em pequenas frases, ao mesmo tempo que nos permitem que delas retiremos o que muito bem entendermos.) 

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

...

Lembro-me dela seca e baixa, metro e meio de gente, mais coisa, menos coisa. Caminhava ao meu lado enquanto me ensinava os nomes das flores, os ciclos da natureza, o que vem antes e o que vem depois. Descrevia-me a sua vida com palavras amargadas por um mundo pequeno demais para a grandeza que reunia no corpo, e tentou depurar-me da minha ingenuidade de criança muito cedo, sem efeitos. Não cabia dentro dela e isso notava-se muito. Usava um lenço que lhe apertava o pescoço e a guardava do sol e do vento, enquanto por dentro uma trança se enrolava em carrapito, desfeito e penteado diariamente, à noite, em frente à santa que lhe guardava os filhos, uns cá, outro lá. O oratório era de madeira envelhecida, enfeitado por um vidro fosco de onde se viam dezenas de retratos, alguns terços, inúmeras orações. Mesmo ao lado morava a arca velha onde se guardavam lençóis de linho branco, onde em tempos se havia salgado carne que se comia cortada em tiras finas e gostosas. No corredor, uma passadeira servia para que eu corresse sem limites até à porta que tinha um degrau de pedra no qual mergulhei vezes sem conta, indo cair directamente nas violetas do jardim. Eram roxas, cheiravam bem. Mesmo à frente a figueira dava uns figos redondos e vistosos que eu comia directamente da árvore, mal se faziam amadurecer. Um dia fizemos uma grande caminhada até um vale que tinha ameixas vermelhas e brancas. Ela apanhava uma a uma, enquanto me contava que a vida era um sítio muito grande onde podemos viver ou apenas estar. Ele passava os dias imerso em pensamentos nos quais nunca consegui entrar. Guardava-se do mundo, dela, de mim, enquanto sorria para dentro e sem ninguém ver, ao olhar o cozido que nascia das mãos magras e compridas da minha bisa. Nesses dias a minha avó chegava invariavelmente na hora do jantar. O cheiro da cozinha amarelecida pelo lume ia comigo para casa dela, entranhado por entre as roupas, os cabelos, o meu sangue. Tudo isso vive apenas cá dentro. As mãos dela, essas, tenho-as no corpo, e que se veja, pouco mais. Sim, é de lá que vêm. Eventualmente ainda, perdidas em mim, as rezas que rezava, todos os dias, para que os santos me guiassem o caminho.

...

A noite estava fria. Passeio-me por entre a penumbra, cheiro as castanhas e atrevo-me a comê-las. Sujo as mãos de preto mas não me incomodo nada, continuo, enquanto guardo as casquinhas secas e estaladiças dentro da saqueta de papel pardo. Dou as duas últimas a uma mulher que me olha na rua, não foi nada, foram só duas castanhas. Bebo um café tardio que me compôs, minimamente, o conforto e continuo até ao fim. Depois, e já noite dentro, pensei que aquilo que sentimos mede-se em muitos tamanhos. Por vezes sinto-me maior e mais pequena ao mesmo tempo, exactamente no mesmo local do meu sentir. Os cafés do fim do dia, esses, são grandes que só visto.

(A limitação, da boa,  nunca conseguiremos lutar conta ela. Conseguíssemos nós limá-la, conseguíssemos nós a plenitude do que queremos, e chegaríamos à perfeição de sermos. Assim conseguimos apenas ser gente. Ser gente é o que temos ao alcance, e deveremos por isso ficar muito satisfeitos. Deveremos, mas nem sempre ficamos.)


(...)


quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Normalidades

Olha-me com uns olhos curiosos, e pergunta:
- Vê a casa dos segredos?
- Não, não vejo. Queres contar?
- Sim, vejo sempre e até sei os segredos. Um que dormiu com os pais até aos dezasseis, uma que foi raptada na Venezuela, uma que perdeu a virgindade aos doze anos, uma que foi vítima de trabalho infantil ... Tudo normal, nada de especial.

(Não sei o que me perturbou mais. Se os casos transformados em programa de televisão, se um miúdo de oito anos que faz daquilo as suas noites, se ele considerar isto tudo normal. 
Mas há mais coisas que me assustam actualmente, pelo que deverei eventualmente habituar-me ao estado. Devagarinho e também ele se torna normal, ainda que perturbador, o que me leva a concluir que de facto tudo pode assumir carácter de normalidade, tendo em conta unicamente a frequência. É também por isto que eu não simpatizo com o conceito, muito embora necessite de o utilizar como padrão de referência. Muda completamente subjugado a impulsos vários, aceitando sem limitações absurdos de diversas ordens.)

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Velhice

Um dos meus maiores choques é a ausência da arbítrio para onde todos caminhamos outra vez. É lá que nascemos, é lá que primeiramente crescemos, profundamente dependentes dos desígnios que nos calhem em sorte, responsáveis por nos levarem onde conseguiremos chegar adiante, com a devida salvaguarda de outras condicionantes externas intervenientes no processo. Deveríamos por isso estar habilitados, conseguir reunir dentro do corpo os apetrechos suficientes para nos entregarmos à idade de corpo e de alma, capazes de obedecer, de submeter, de ceder, de extenuar. Mas não estamos, de facto não estamos e por isso mesmo o que me choca verdadeiramente é a submissão da velhice, confiada a quem cá fica e se supõe capaz, gente muitas das vezes absorta por princípios adulterados e completamente concentrados no que se é e no que se quer ser, e não no que nos ofereceram e nos proporcionaram. Isso permite que se decidam destinos irreflectidos, se escolham vidas que não nos pertencem, se ponha e disponha de destinos curtos e dependentes ao sabor da inconsciência, mesmo quando tal não era preciso. E depois e em seguimento, permite por exemplo que se desuna quem se quer junto, e que os finais de vida sejam vividos em completa angústia de ausência, aliada a todas as outras que surgem em decorrência da idade. Também aprecio consideravelmente, uma cereja no topo do bolo por assim dizer, o processo de  descarga de culpa grosseiramente vivido por quem decidiu, verbalizado com todos os pormenores, todos os ésses, todos os érres e todos os traços, devidamente aglomerados em forma de justificação externa e interna, que deixa o próprio submerso num bálsamo de consciência expelido em forma de discurso. Não simpatizo com bálsamos de consciência, basicamente é isso. Apresentam sempre um cheiro meio nauseabundo que me entra pelas narinas e me chega num ápice ao exacto local do meu corpo onde começo a perder a compostura, na sequência do adormecimento da censura. Nessas horas tenho dois caminhos de escolha. Ou acordo-a, sacudindo-a, e às vezes faço isso, ou deixo-a adormecida e faço exactamente o que me apetece fazer, sem olhar a educações, cortesias, limitações, contenções e moderações. Nesta última, e no final de tudo, respiro fundo aliviada.

( Normalmente não ganho nada a não ser o alivio, é um facto. O alivio amacia a existência, mas em casos concretos dificulta-nos o processo de resolução de situações. Não nos deveríamos permiti-lo quando conscientes da sua inutilidade prática e quando direccionados a fonte externa. São uma mera consolação para o corpo, também eles, muito embora mais honestos, mais viscerais, mais genuínos. Mais nós.)


domingo, 14 de outubro de 2012

De como, também, ensinamos.

O cãozinho tem só três patas e o veterinário indica o abate. Não por sofrimento do animal, mas sim pela excessiva dedicação que vai exigir ao seu dono. A mãe olha para a filha com olhar de quem questiona, e agora?, sem que a pergunta lhe saia da boca. A miúda, expedita, percebe-a a léguas de distância e responde-lhe, já percebi o que me estão a querer ensinar. O que é diferente, mata-se. 
Pegaram no cão e vieram embora, mas de facto o que há a reiterar daqui é que as crianças são fantásticas, os adultos é que dão cabo delas. 

( Na maioria das vezes nem pensamos na dimensão. Ensinamos palavras, boas maneiras, pressupostos, teorias, história, literatura, política e acções. Tudo devidamente enquadrado dento daquilo que consideramos apropositado fazer. Esquecemos, com elevada frequência, o subentendido das intenções. E logo depois pasmamos, ignorantes, com as consequências.)  

sábado, 13 de outubro de 2012

É fim de semana de moda no recanto, e apeteceu-me seguir a dica, com direito a opinião.


(Foto da colecção TM Collection, na Vogue)

A moda será, como qualquer outra coisa que se relacione com o ser humano, limitada. Não quero com isto dizer que haja um limite para o que se pode fazer, construir, ambicionar, desenhar, e perdoem-me lá a antítese. Os limites, palavra ambígua e completamente condicionada, centram-se sempre numa moderação coexistente com a nossa natureza, ou não fôramos nós deles precisados, sujeitos até, muito embora façamos questão de abrir a boca e expulsar cá para fora, de forma cheia e encorpada, que somos livres. Balelas. Em traços gerais, constituem o limiar a partir do qual, e quando ultrapassado, entramos no vazio da existência, o mais profundo de todos os nossos medos.
No caso da moda o terreno é outro. Mais ligeiro, por assim dizer. Tudo se pode igualmente fazer, é um facto, vivas sempre à liberdade, mas existe um exacto limite onde se ganha entrada, fácil e directa, no campo do hiperbólico, do excessivo, do ruidoso, que equivalerá provavelmente ao local onde tudo se pode perder, local esse completamente individualizado. Felizmente então que a nossa mente, também ela limitada e ilimitada ao mesmo tempo, e seguindo este critério da individualidade, permite a existência de todos os campos de acção, de todos os estilos, de todas as realidades. Senão, fossemos todos unicamente cingidos à mesma linha de moderação, e eu queria ver quem é que teria a ousadia de vestir isto. Por exemplo. É que quem diz isto, diz muitas outras coisas, devidamente aplaudidas e aclamadas, aqui e acolá, hoje e amanhã. Até porque para inovar é preciso variar. E o mundo, esse, acompanhar. 

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

...

A idade é uma coisa que me trouxe coisas boas encobertas pelas rugas da testa, pelo desarranjo dos cabelos, pelo sorriso que me nasce na boca pequena fatigada pelo tempo, pelo ar triste dos meus olhos. Trouxe-me por exemplo e entre muitas outras coisas, uma capacidade de apreciar os pormenores da existência, mimos que a vida generosa resolveu guardar para entregar à minha passagem, invariavelmente macia e cuidadosa, não vá eu belisca-la e deixá-la irada, poderia retaliar-me, sou pequena para isso. Há então dias em que me apetece sentir o sol que cheira o mar lá ao fundo do horizonte, inspirar a aragem fria da tarde outonal, deixar que a mesma me entre para dentro da roupa e se aninhe suavemente no meu corpo, no exacto instante em que me sussurras qualquer coisa, doce, ao ouvido. 

(As palavras por exemplo, muito embora não se afigurem como um simples pormenor, apetece-me também falar sobre elas, porque com o tempo mudaram para mim. Aprecio-as muito além da razoabilidade, é um facto, tendo em conta que constituem uma das armas mais perigosas que o ser humano detém dentro do corpo. Podem ser usadas com propósitos pequenos e comodistas, sufocadas por mesquinhezes danadas, engolidas por recantos obscuros que se podem amontoar dentro, sem que se vejam, sem que se descubram, sem que se dêem a conhecer ao redor. Mas por outro lado, e é aí que lhes reside o verdadeiro encanto, quando ditas em transparência deixam-nos no limbo da genuinidade, da vernaculidade, da franqueza que podemos reunir e deixar soltar, direccionada a quem de direito, a quem queremos, a quem nos apetece mesmo que saiba quem somos. E aí sim, são grandes. Maiores do que o mundo.)

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

...

Freud explicou-nos o inconsciente. Piaget trouxe-nos a evolução cognitiva e Pavlov deu-nos umas luzes muito concretas do condicionalismo. Vigotski por sua vez falou-nos de comunicação, isto entre muitos outros que se debruçaram ou debruçam sobre nós. Mas até hoje, não me lembro de nenhum que me tenha conseguido ensinar a controlar as agitações que posso sentir em mim. Há sempre situações na nossa vida em que as teorias valem nada, e normalmente é nessas alturas que eu consciencializo que há coisas do nosso corpo que são maiores do que qualquer verdade que se possa ler, se possa ouvir, se possa saber, ou se possa, em última instância, controlar. 

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

The Wall


Vinil

Hoje falou-se de discos. The Wall dos Pink Floyd veio-me de imediato à cabeça, e eu lembro-me como se fosse hoje. O gira discos era plano e os vinis pequenos e grandes arrumavam-se ao lado, no móvel branco e azul. Do lado de cima repousavam medalhas arrumadas criteriosamente, exactamente ao lado do prato onde se liam dizeres de louvor. Nas molduras haviam fotografias séphia, onde os chapéus existiam nas cabeças das senhoras e os lenços emergiam de dentro dos bolsos dos senhores. Eram antigas, hoje não sei se ainda existem, dado que também algumas antiguidades se finam no tempo. Eu agarrava o disco sempre com primor, enquanto o borrifava com um liquido milagroso que o limparia do pós, dos grumos e das impurezas que pudessem prejudicar a recta leitura do som. Posteriormente colocava-o com cuidado, logo depois fazia descer a agulha com muita delicadeza e a música sempre tocava, sem demasiadas demoras. Nesse dia e perante um descuido meu, o disco riscou e passou a emitir um barulho estranho, sempre no mesmo local, que o fazia saltar devagarinho e continuar a marcha, uns acordes depois. Acho que nunca me perdoei desta inadvertência e a partir daí redobrei os cuidados. Na colocação da agulha iniciei uma manobra ao corpo, que me permitia espreitar o exacto momento em que a agulha tocava a superfície do disco e o começava a tocar. O movimento da minha mão era finalmente feito com o máximo primor que a minha destreza permitia, e nunca mais risquei um disco. Faz hoje anos, sei disso, muito embora não saiba bem quantos, nem vem ao caso.
O esmero das minhas mãos entretanto perdeu o préstimo. Para nada é preciso perante as modernas tecnologias que assolam as casas, as grandes superfícies, as lojas da especialidade, robustas e duráveis o suficiente para resistirem a atrozes provações. Mas não é igual a magia, ressalvando sem dúvida a supremacia da qualidade. A agulha no disco a começar, lentamente, enquanto o som nascia devagarinho debaixo das minhas mãos pacientes e prendadas, dava-me um sabor de triunfo que nos entretantos morreu. Porque há sentimentos onde só chegamos com o rigor da dedicação. 

sábado, 6 de outubro de 2012

...


Acasos

Em conversa com a enfermeira de serviço, divaguei. Por vezes penso o mundo, não o mundo que existe fora, mas o mundo que construo cá dentro. O meu mundo acontece normalmente envolvido em coisas queridas, sendo-me portanto extremamente difícil viver ao abandono de mim. Viver ao abandono de nós mesmos deve de ser uma coisa fácil, surge-me, e agora vou estender-me em divagações muito além. Permitirá por certo que a manhã nos agarre nos acasos das horas, nos empurre no chorrilho dos dias e nos deposite nos despojos da noite, fiel seguidora de quem vive em multidão. Permitirá fazer o que há e não o que queremos, sem que isso nos deixe desligados de nós enquanto pessoas. Permitirá também que a cor nos pinte os olhos de verde ou de azul, enquanto combinamos com um vestido e um sapato ao sabor da ocasião, que poderemos nem saber bem qual será. Por certo possibilita que nos escorram do corpo actos sem direcção, sorrisos sem final, palavras escolhidas ao sabor de um licor, e ainda que deambulemos entregues a coisa nenhuma e nunca a nós mesmos. Que uma música desconhecida nos saiba a uma vida, que um sítio vazio nos pareça um aconchego, que se durma e se acorde sem irmos para um lugar, encostados a instantes súbitos e cheios de nada, enquanto o mundo à volta gira sem direcção. Invejo, por vezes invejo a fácil satisfação, que depende sim, mas não da nossa vontade própria, antes só da circunstância externa. Por me parecem levemente simples as vidas que docemente se encostam ao fortuito, empurradas em fios imperfeitos que não guiam mas que transportam gentes, tempo fora.

(Há caminhos sem retrocesso, nunca lá chegarei, não quereria sequer. A inveja não é real, trata um mísero desabado, leviano, felizmente inconsequente. Nunca nos meus dias poderei caminhar sem intento, entregar-me ao mundo e não a mim mesma, deixar-me guiar pela maciez do acaso.)

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

...



( Daí não se vê, mas daqui, suspira-se...)

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

...

Deparei-me por impulso externo com a razão e a vontade. A lógica coerente e o desejo, o que sabemos ser certo e o que o nosso corpo pode querer. O autor entra sem limites naquilo que pode ser a natureza mais crua do Homem. Admiro desde sempre quem o faz, sem qualquer espécie de medo. O medo é uma reacção do corpo completamente manipuladora da liberdade dos espíritos, persegue-nos sem darmos por isso e aloja-se no exacto local onde escolhemos parar de pensar. Deixamos de o fazer em causas diferentes, que podem ir desde medos impostos a medos sentidos, ambos igualmente limitadores, muito embora totalmente distintos na causa em si e isto deixando de lado outro tipo de receios. Os impostos toldam-nos essencialmente as acções externas, os sentidos limitam-nos o cerne do pensamento. São estes, digo eu, os verdadeiramente assustadores. A liberdade conseguida por quem arrisca pensar além do limite do razoável, além do medo de sentir o que quer que seja, permite sempre uma existência muito mais inteira, coisa que eu admiro em absoluto. Arrisco dizer, que não haverá no mundo liberdade maior do que essa. O autor entra, e no seguimento, no conceito da normalidade e na dissertação sobre o que será efectivamente correcto fazermos. Põe em causa a razão, lançando questões que nos remetem para o que será realmente melhor para nós. Fala naturalmente na lógica matemática, aquela grandeza que eu de facto chego a abominar. Se dois e dois forem sempre quatro, diz ele, que mais nos resta ao pensamento e ao ser, se apenas nos subjugarmos à lógica dos mesmos? Uma soma, nada mais, sempre com igual direcção. Continuando o raciocínio, para onde caminharemos todos se não permitirmos que na nossa organização interna se equacionem outros resultados completamente distintos, que nos emerjam ao sabor das nossas vontades? Vontades essas que podem até não ser as mais coerentes, sendo porém elas que nos permitem ser, na verdadeira acepção da palavra. De facto, o caminho certo e coeso como um destino único de um fim sempre igual, pode ser seriamente castrador, motivo mais do que suficiente para que nos impulsionemos a construir o nosso mundo de uma outra forma. Que nos permita escolhas jungidas a nós e até, quiçá, sofrimentos de diversas ordens, impostos por mãos próprias, apenas e só porque assim queremos, em completa faculdade de razão.
A consciência da certeza de que não agimos todos sempre da mesma forma, deixa-me, por si só, crente no que de mais extraordinário existe no mundo, a nossa individualidade desigual. Só ela, profundamente emaranhada no que sabemos e no que sentimos, nos permite chegar onde a lógica, sozinha, nunca nos permitiria ir. 

( Dostoiévski, pois. Ele e mais alguns, mostram-nos que o medo de entrarmos cá dento é o pior medo de todos os medos. Admiro estas mentes abertas a nós, mais do que abertas ao mundo exterior. Antes de nos percebermos a nós próprios, nunca deveríamos tentar compreender a imensidão social.) 

Dia

Mais uma vez um dia em que a comemoração me faz algum sentido. Ando assim, numa incoerência danada no que toca a datas de celebrações, é o que é. Afirmo-as como pouco relevantes, mas depois e perante determinados motes, acabo por sucumbir às ditas. Os animais merecem. Persisto então na continuidade das coisas. Na coerência, no seguimento. Não há ser vivo, seja ele qual for, que viva só quando o rei faz anos. 

(Sim, eu sei que viver todos os dias cansa. Pedro Paixão até se apoderou desta linda realidade para título de um dos seus livros. Já não me lembro muito bem do cerne por ele dissertado, não lhe pego há muito. Mas acredito piamente que não tenha encontrado soluções definitivas que nos libertem o corpo do mal, eu pelo menos não me lembro de nada disso, logo...)

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

(...)

"A lua está lá muito em cima e as coisas começam sempre por algum lado. Olho-a ao longe e lembro-me de ti. Não me perguntes porquê, para já será porque me lembro a toda a hora, mas será também, eventualmente, porque sei que gostas dela, e eu também gosto muito. O que nos vê do alto do mundo dá-nos sempre uma sensação de pequenez que nos instiga o corpo à confiança, não achas? O nosso corpo gosta, e muito mais do que o nosso corpo, ambos sabemos disso. 
Prosseguindo, até porque isto é apenas um principio de qualquer coisa que se prevê muito maior, ou não seja o nosso objectivo, sempre e em qualquer lugar, ultrapassar as grandezas que já conhecemos. A corpulência do que se sente, essa verdadeiramente merecedora da minha atenção, pode até nem ter limites, acredito nisso, muito embora tenha que existir toda no corpo, dizias-me isso ainda há pouco. É lá, em cada escaninho, em cada pensamento, em cada sensação que experimentamos que tudo acontece, como por exemplo quando me ouves ou quando eu te sinto. Ai, e em confluência, começamos a precisar de soltar coisas cá para fora, não porque as não queiramos, mas apenas porque não cabem cá dentro, a tal infinitude. É extraordinário este acontecimento, até porque elas aumentam quando te as dou, e é precisamente aí, no regresso, que ganham lugar em mim outra vez. Muito maiores (...). É intimo, palavra que sabes que aprecio, e trata ainda um querer com querer. Um querer em dois, que pode, ironicamente, assustar. Deixa-nos num estado de ausência do corpo, que quase parece escapulir-nos direccionadamente, ao mesmo tempo que em completo e complexo desgoverno. Tão simples ao mesmo tempo... (...) Vamos a ver e nem estamos onde costumamos, nem vemos o que usamos ver, o mundo mudou o seu lugar de existência, desorganizou-se. O chão abre uns buracos fundos que nos deixam em cuidados, não vamos ser engolidos sem querer, os caminhos certos separam-se em bifurcações completamente opostas, o espaço ocupado pelas nossas vidas encontra-se à mercê de uma qualquer grandeza que nos abafou no caminho, para não mais nos deixar prosseguir, sozinhos. Ou pelo menos perdemos essa vontade. E é exactamente nessa hora, que tudo se reorganiza outra vez (...).  
(Olha mas voltemos à lua, pode ser? Poderemos os dois ir sentir a que cheira, que ver, já a vimos muitas vezes. Ao longe, é bem certo, mas é como se ela estivesse mesmo aqui ao lado, por tudo o que te disse. Se não couber em mim o que sinto, olha, fazemos como sempre, dou-me. E logo depois fico, encostada, à espera. E agora, shiuuuuuuuuuu, desta feita não quero que digamos mais nada. Sintamos, só...)"

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Love will tear us apart


( Nasceram em 1976. E eu gosto deles, é isso.)

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

...

Hoje agarrou-me com força na mão e segurou-me ali perto. A presença, simples e unicamente a presença, chega sempre para que sosseguem, para que sorriam, para que nasçam um bocadinho outra vez. São velhos, todos, já vieram, já viveram, já cresceram, já quase que morreram. Mas ainda não, ainda cá estão, logo e enquanto isso, existem sempre. E precisam e dão. Não percebo como ainda há quem não veja isto. E quem não o sinta, do lado de dentro dos olhos, arrumado algures dentro do corpo, o único sítio onde somos.

(Celebra-se hoje o dia Internacional do Idoso. Não sou propriamente de celebrar o que quer que seja na data marcada, sou mais de espontaneidades. Também já não acredito muito na mobilização de vontades e de acções que parecem emergir nestes dias para morrerem no outro, imediatamente a seguir. Ainda assim, e no pouco que despertar, que desperte. E a desesperança é um local onde eu não quero cair nunca na vida. Deve doer.)

Seguidores