quarta-feira, 3 de outubro de 2012

(...)

"A lua está lá muito em cima e as coisas começam sempre por algum lado. Olho-a ao longe e lembro-me de ti. Não me perguntes porquê, para já será porque me lembro a toda a hora, mas será também, eventualmente, porque sei que gostas dela, e eu também gosto muito. O que nos vê do alto do mundo dá-nos sempre uma sensação de pequenez que nos instiga o corpo à confiança, não achas? O nosso corpo gosta, e muito mais do que o nosso corpo, ambos sabemos disso. 
Prosseguindo, até porque isto é apenas um principio de qualquer coisa que se prevê muito maior, ou não seja o nosso objectivo, sempre e em qualquer lugar, ultrapassar as grandezas que já conhecemos. A corpulência do que se sente, essa verdadeiramente merecedora da minha atenção, pode até nem ter limites, acredito nisso, muito embora tenha que existir toda no corpo, dizias-me isso ainda há pouco. É lá, em cada escaninho, em cada pensamento, em cada sensação que experimentamos que tudo acontece, como por exemplo quando me ouves ou quando eu te sinto. Ai, e em confluência, começamos a precisar de soltar coisas cá para fora, não porque as não queiramos, mas apenas porque não cabem cá dentro, a tal infinitude. É extraordinário este acontecimento, até porque elas aumentam quando te as dou, e é precisamente aí, no regresso, que ganham lugar em mim outra vez. Muito maiores (...). É intimo, palavra que sabes que aprecio, e trata ainda um querer com querer. Um querer em dois, que pode, ironicamente, assustar. Deixa-nos num estado de ausência do corpo, que quase parece escapulir-nos direccionadamente, ao mesmo tempo que em completo e complexo desgoverno. Tão simples ao mesmo tempo... (...) Vamos a ver e nem estamos onde costumamos, nem vemos o que usamos ver, o mundo mudou o seu lugar de existência, desorganizou-se. O chão abre uns buracos fundos que nos deixam em cuidados, não vamos ser engolidos sem querer, os caminhos certos separam-se em bifurcações completamente opostas, o espaço ocupado pelas nossas vidas encontra-se à mercê de uma qualquer grandeza que nos abafou no caminho, para não mais nos deixar prosseguir, sozinhos. Ou pelo menos perdemos essa vontade. E é exactamente nessa hora, que tudo se reorganiza outra vez (...).  
(Olha mas voltemos à lua, pode ser? Poderemos os dois ir sentir a que cheira, que ver, já a vimos muitas vezes. Ao longe, é bem certo, mas é como se ela estivesse mesmo aqui ao lado, por tudo o que te disse. Se não couber em mim o que sinto, olha, fazemos como sempre, dou-me. E logo depois fico, encostada, à espera. E agora, shiuuuuuuuuuu, desta feita não quero que digamos mais nada. Sintamos, só...)"

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