O processo é usualmente rapidíssimo. Há instantes que se cravam na memória e ganham toda uma vida, na mira de se tornarem realidade todos os dias, como se se repetissem sem cessar, um martelo, só podem ser um martelo que insiste e persiste à revelia do querer. Adornam-se de um conjunto de artefactos de um poder incrível, os nossos sentidos, e assim permanecem no corpo, intrusivos, sempre que calha, que acontece, lhes apetece, lhes dá para aí. Deveria ser mais fácil matá-los, mas na verdade conseguem ser mais consistentes do que o presente que me entra pelos olhos, simples e quase perfeito, e ganham toda uma existência própria dentro da minha cabeça embotada. Sou por isso capaz de os reviver vezes sem conta, sinto-lhe o cheiro peçonhento, o ruído ensurdecedor, as cores de um negrume impossível, a lentidão com que me percorrem por dentro, como se de uma tortura se tratassem. É claro, sei de fonte seguríssima que os posso matar de uma vez. Sei que é possível atordoá-los com veneno, qualquer um dos mais mortíferos, e prosseguir sem que os segundos danados continuem a rodar no filme que teima, excessivamente grande, cá dentro. Um dia destes dedico-me a mim, preciso de me dedicar também a mim. Nesse dia talvez volte a escrever, muito sossegada.
Este seu texto me serviu tão bem. Fico contente que tenha voltado a escrever. Gosto muito. Um abraço! :)
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