terça-feira, 18 de dezembro de 2012

India

Resolvi ir à India num dia de chuva pela manhã. Percorri os números do banco num relance rápido e fiz meia dúzia de contas que me disseram que o melhor era esquecer o devaneio e rumar a terras próximas, quem sabe até ficar por casa. Ainda assim resolvi consultar os sites de viagens conhecidos, procurar as melhores promoções que me permitissem uma estadia de pelo menos dez dias, incluindo uma visita ao Taj Mahal. Imprescindível. Consciencializei que para tal coisa necessitarei de entrar dentro de um avião um número de horas consideravelmente superior ao que me é humanamente possível. Analisei a agenda, demasiado cheia para poder retirar nesta altura do ano os dias que necessito para prosseguir com o meu destino, e ainda assim escolhi uma semana que me parece liberta de responsabilidades e que tentarei manter escondida do mundo só porque sim, tal e qual como se ali eu não existisse, como se naquela altura eu me apagasse aos meus, que por cá ficarão sossegados. Quando esse dia chegar vou acordar muito cedo. A mala estará pronta de véspera e eu vou com pouco mais do que a roupa do corpo. Um mapa, não quero perder-me geograficamente, uns fármacos de largo espectro, um telefone, preciso de manter alguns contactos na altura em que vergar à solidão e à distância. Não tenho a menor dúvida disso, vou ceder. Vou sentir-me perdida no meio das vacas sagradas, do hinduísmo e das tamburas, e vou sentir uma falta imensa da minha zona de conforto e das minhas pessoas. Provavelmente vou dormir até me cansar, ou então e em alternativa,  vou palmilhar descalça as ruas de Agra, cheirar as casas e as gentes, passar despercebida aos olhos de quem não sabe quem sou e encontrar, assustada, partes de mim. Depois vou regressar, as viagens de regresso são-me sempre muito mais fáceis. O avião nunca abana e se abanar eu não tenho medo. Gosto de chegar rente à noite, vejo as luzes ao longe, mas ainda consigo distinguir com exactidão os contornos dos prédios, das ruas e das pistas de aterragem, quando já me encontro muito perto do chão. Não bato palmas no final, nunca me apetece.

(Quando voltar, e ainda que sem nunca ter chegado a partir, vou sentir que o meu mundo sou muito mais do que eu. A liberdade é qualquer coisa que proclamamos como se fosse nossa mas não é. É um terreno idealizado e conspurcado pelo mundo que nós próprios construímos, e onde nos perdemos, uma e outra vez, sempre que descobrimos a verdade. Isto hoje aqui foi só uma história pequena e completamente desconexa. Mas podem ler uma a sério, muito mais abrangente e direccionada,  aqui. )   

2 comentários:

  1. Ninguém é completamente livre, mas algumas são muito mais do que outras. Até para dizer que o é. Pois!

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    1. A liberdade suprema deve de ser qualquer coisa isenta de sentido e desprovida de tudo o que nos faz gente. Não sei, digo eu, o que te parece? Dizer Paulo? Dizer é o que de mais fácil há... Ou não?

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