quinta-feira, 11 de julho de 2013

agora eu, agora tu.

Às vezes penso nas palavras e nas caras, têm socialmente muito a ver umas com as outras. Sempre me irritaram leituras de caras, fracas tentativas de tradução de estados internos. Ora, caras são caras, não são livros abertos. A minha felicidade não se vê crua no meu rosto, a minha vida não me sai toda em gestos, a minha possível solidão não se lê nos meus olhos. Quem arrisca joga um jogo de lotaria sem nunca saber se acerta. A palavra escrita pode ter ainda mais valor, mas também pode não ter. Um beijo escrevinhado pode valer muitos que se guardam sem cabimento nenhum, mas sai só um porque é assim que julgamos soar melhor. Em psicologia gostamos de dizer que os conceitos nascem das palavras ideadas. Nada se constrói no vazio do nada, convenhamos, faz tanto sentido. Não há coisa no mundo que mais me assuste do que o vazio ao qual chegaremos quando a palavra perde símbolo e significado. Quando uma caneta não é nada ou é um garfo ou um sapato. Também não aprecio os risos cínicos do gozo contido na circunstância. Podemos não saber, e ainda bem que não sabemos, mas temos a obrigação de imaginar. As maldições caem onde devem cair, gosto de pensar assim, mas sou boa, muito boa até, jamais desejaria o mal de alguém. Só acho mesmo que os ensinamentos vêm através do corpo e o resto são conversas fiadas, género politiquices no parlamento. Se algum dia alguém regressar do vazio para me conseguir explicar o sentir, gostaria de sabê-lo, consciente da distância do discurso, claro. O conceito é uma vida e uma prisão no mesmíssimo segundo, mas a verdade é que nos exprime. O resto, a cara, é uma cara não é um livro aberto. E as palavras são qualquer coisa de validade máxima, tanto interna quanto externa, eventualmente com supremacias alternadas. Agora eu, agora tu.   

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