sexta-feira, 12 de setembro de 2014

fim

Sem faltas modéstias, sou genuína. Ainda se ouve dizer que é uma qualidade, que revela um bom carácter, que traduz personalidade consistente, que transmite segurança. Temo que seja relativo no proveito próprio, e considero-a um excelente predicado apenas em questões de princípio social e de consciência. No mundo que eu conheço para se viver bem é preciso agradar a gregos e a troianos, mostrar encantamento mesmo por quem não se tem, encostar ao lado dos que sabemos serem importantes, ainda que isso nos custe em esforço. Uma das minhas maiores dificuldades actuais é ensinar ao meu filho o porquê de eu ainda considerar a genuinidade uma coisa boa: cada vez mais as pessoas são um meio e não um fim, não valem por si mas pelo que nos dão, não constituem um valor mas um trampolim de subida, um puro delírio, pseudo-evolução. No topo de tudo, houvesse varinha de condão, e era transformar pessoas em pequenas moscas capazes de escutar. Nos minutos seguintes desabavam as casas, desabavam as ruas, desabavam as cidades e desabavam os países, desabava o mundo e erguia-se a guerra onde morreríamos todos, genuínos incluídos, esmagados pela fúria da constatação.

(A minha avó sempre me ensinou que magia só nos livros e nas crianças. Sendo assim, continuemos.)

2 comentários:

  1. Quanto menos genuínos somos, mais nos anulamos. Mais do um princípio social, é um princípio de auto-respeito e de amor próprio. Essa é talvez uma das grandes vantagens de não abdicar disso.

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    1. Pois é... Mas por vezes sinto-me a caminhar tão ao contrário, que até me assusto...

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