sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

famílias

Logo a seguir à personalidade, o que mais me fascina são as histórias de famílias. Na dinâmica familiar convergem as individualidades, as dualidades, os amores e os ódios pessoais, os gostos, as ambições, as possibilidades e as limitações, as heranças e os genes. Não há nada mais emocionante em termos de complexidade do que uma árvore genealógica onde habitam gerações, onde se escreveu uma história de apelido comum e de pessoas que se formam, obviamente, muito diferentes, ou, evidentemente, assustadoramente iguais. Escrutinar uma trama destas é usualmente o paraíso dos escritores, o passatempo da vizinhança, a tragédia que se anuncia nas bocas das senhoras que tomam o chá das cinco na melhor pastelaria da cidade, a heresia que se adivinha nas profecias das que rezam dia e noite, nas igrejas dos lugares comuns. Não as censuro. Não as critico, sequer as condeno. Não há nada mais educativo e emocionante do que a descoberta das nossas vidas no senso comum do sangue alheio. A minha avó sempre me avisou: não se fala da vida dos outros. Sempre a compreendi, sempre concordei com ela, sempre admirei a sua capacidade de silêncio e a sua dedicação ao que era íntimo. Perpetuo-lhe a ideologia, é um facto, da minha boca nunca nada se escuta, limito-me a explorar e a olhar. A percorrer nos livros (começou sensivelmente com os Maias, continuou com muitos outros, como Cem anos de solidão), a dissecar na vida, a entrar com os meus olhos sedentos de história, para depois simplesmente as abandonar, quando pouco proveito me dão. É um egoísmo sem precedentes, um oportunismo sem explicação. É uma paixão que a cada dia me prende mais do que o ser por si só. Uma família, uma simples família, um único nome, uma manipulação ou uma ambição, podem mudar uma vontade, podem impulsionar um desejo, podem matar uma ordem ou edificar uma legião. Preciso cada vez mais de as incluir no meu plano de estudos, no meu objectivo terapêutico, na minha consciência clara de acção. Uma família gera, muda, conflui um infinito de possibilidades tal e qual um heredograma, muito posterior à gestação. Uma verdadeira explicação. Um objectivo, saber mais e melhor como olhar esta potência do conhecimento humano.

7 comentários:

  1. Não fosse a família a nossa primeira instituição :)

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    1. Isso Pink Poison. E dita-nos tanto, que até assusta... :)

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  2. A. (Ou Chapeuzinho Vermelho)2 de janeiro de 2016 às 03:16

    Como se constrói uma família?

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    1. A, de variados nomes: Como se constroem tantas pessoas fictícias? E porquê?

      Bom fim de semana. Há tanto para fazer...

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    2. A. (Ou Chapeuzinho Vermelho)2 de janeiro de 2016 às 14:33

      No meu caso, uso vários nomes porque já não moro mais em mim...
      Talvez eu tenha me tornado uma pessoa fictícia...
      Bom final de semana! :)

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    3. Não aprecio ficção. Seja inteira, pelo menos por cá. Agradeço.

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