sábado, 16 de janeiro de 2016

copy paste

Todas as semanas tentam escrever um postal pessoal e intransmissível, sempre novo e feito à mão, as novas tecnologias não assombraram todos os espíritos irremediavelmente. Ali, naquele momentos, vive-se de meia dúzia de palavras cuidadas, de uma direcção, de uma dedicação, uma perfeita dádiva. Olho meio espantada, não estou habituada a isto, e relembro de imediato a caixa verde que a minha mãe guardava no armário da sala, carregada de fotos escritas com recados de amor que cruzaram África, há muitos anos atrás. Nelas construiu-se um amor em tempos de guerra, e devido a ele estou cá eu, a minha irmã, os nossos filhos. Não consigo deixar de olhar este jovem com admiração. Não ouso catalogar a acção de lamechas, tal e qual faz quem sabe da troca, por outro lado, apetece-me enaltecê-la efusivamente, erguer-me e bater palmas, obrigá-lo a subir para a cadeira enquanto lhe coloco uma medalha ao pescoço, de oiro valioso impresso a merecidos elogios. Acontece-me especialmente quando logo depois percorro adultos que se satisfazem unicamente com a tabela pré-definida de um beijo, sem expressão, quase sempre igual, um copy paste diário, em intento e sentimento. É de cedo que deveríamos tratar de inventar o amor, todos os dias, e não há nada mais saudável que um "previsto inesperado". Está à espera da volta do correio, diz-me com um sorriso. O que ela me diz na escola é um mundo à parte, é aqui, neste segredo cúmplice, que moramos os dois. Dei-lhe dois beijos na despedida e um até breve. Apeteceu-me fazer-lhe uma festa na testa, mas pareceu-me excessivamente maternal. Por dentro, desejei-lhe que nunca perdesse a simplicidade.

7 comentários:

  1. Lembro-me de , com 11 anos, detestar ter férias escolares, por estar afastada do meu primeiro namorico, paixão intensa naquelas idades, quem pode julgar? 29 anos passados e quando nos cruzamos paramos e trocamos 2 dedos de conversa.

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  2. De todos os sentimentos, o amor é o único que não preciso definir. Acho suficiente dizer: "O amor é." e ponto final. Ele é só o que existe. Não imagino o amor sem simplicidade... O resto? Bem, o resto cada um de nós sabe onde termina.
    "Há dias em que a solidão nos serve como um vinho inebriante de liberdade; noutros dias parece um amargo veneno." (Colette)
    Tenha um lindo dia!

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  3. escreves e escreves muito bem, deveríamos realmente começar desde a cedo a inventar o amor, em vez disso começamos logo a inventar as desilusões de amores fugazes.
    um beijinho, bom Domingo!

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  4. temos a Psicologia em comum, que maravilhoso :) ainda estou no primeiro ano de Mestrado mas penso que a nossa direcção será semelhante tendo em conta que no seu perfil diz "Recursos Humanos"

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    1. Está lá, mas não é o que faço actualmente... Já fiz, agora estou mesmo ligada à clínica...

      Bons estudos. :)

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