domingo, 17 de janeiro de 2016

não há vida sem relação

Não me convencem, nunca me convenceram da ideia de que no nascimento e na morte estamos em igualdade de circunstâncias na nossa própria solidão, comportando a vida na teoria. Ainda há pouco tempo a discussão se instalou com emotividade, eloquência e vaidade, e da boca dela saia a certeza apregoada e acreditada em fé da semelhança destas considerações solitárias. Daquela forma, escrita em romantismo, dita em poesia, escutada em ânsias de beleza até me parecia soar bem, é uma sequência ordenada de factos filosóficos perfeitos, são a absoluta fórmula de extremos matemáticos, o principio e o fim, um acto de expulsão e um acto de extinção. Mas a verdade é que na vida real encaro tudo de outra forma, eu, que já vi nascer e morrer aqui debaixo dos meus olhos, que já agarrei um recém nascido no segundo do choro, mas que também já beijei gente na hora assustada do fim. Eu, que já tentei espantar a morte quando a mesma me atraiçoou pelas costas, no exacto momento em que fechei a porta do hospital. É claro, não ousei discordar perante a unanimidade do elogio à beleza do discurso. Não me apeteceu contrariar, por vezes a marcha oposta é qualquer coisa sobre a qual não me apraz insistir, cansa-me, desgasta-me, podem até julgar ser algum acto presunçoso, o que na realidade é oposto, pois presunção será porventura este alheamento de conformidade, sem a mais pálida convicção. Na extrema do nascimento há o mundo e há a vida, cada vez sinto mais isso. Há as pessoas e os sorrisos, a felicidade e a dedicação presentes ao longo de grande parte da nossa existência, sem tudo isto não haveria crescimento. Na extrema da morte há o vazio e a desilusão. Não, não são iguais. O que as primeiras ganham em união, a última sim, vence em solidão. De quem morre e muitas vezes de quem fica, por tempo indeterminado.

8 comentários:

  1. Explicou na perfeição CF. Obrigada.

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  2. Estou tão vazia... Incapaz de escrever um comentário à altura do texto. Talvez pela minha consciência, ou pela falta de entendimento, tanto sobre a vida quanto a morte. O que eu sei, é que nenhuma pessoa pode viver sozinha. Precisamos do outro, assim como uma ilha precisa de um oceano para existir...
    Não há morte sem nascimento, nem nascimento que ultrapasse a morte. A maneira como vivemos é o que importa. O amor que entregamos nas nossas ações. Só assim a vida se justifica.
    "Não existe cura para o nascimento nem para a morte, a não ser aproveitar o intervalo entre eles. (GEORGE SANTAYANA)
    Às vezes, sinto vontade de escrever mais... Qualquer dia te envio um email...
    Tenha um lindo dia!

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    1. A solidão total implica uma não existência, quanto mais não seja porque nos impediria o nosso próprio reconhecimento...

      Obrigada A.

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  3. Depois do primeiro casamento, vivi sozinha 3 anos, um horror saber que ninguém estaria à minha espera e ninguém iria chegar. Nós, sem os outros, nada somos.
    Um beijo e boa semana :)

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    1. Somos pouco sim, Pink Poison...

      Boa semana também para si.

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  4. Olá :-)
    Eu fui uma das pessoas que já escreveu várias vezes comparando o nascimento e a morte. O que lhes vejo em comum é que ambos são passagens. E são passagens dolorosas, sofridas, com queda abrupta no desconhecido. Naturalmente que nos proporcionam momentos distintos, mas são a fronteira entre dois mundos, duas existências. E, de certa forma, ambos são actos de libertação de um corpo.
    Um abraço apertado :-)

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    1. Olá Olga... :)Nessa campo, estou totalmente de acordo contigo. São extremos fortes e passagens com sofrimento... Mas não acho que tenham o mesmo grau de solidão...
      Outro abraço apertadinho para ti. :))

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