terça-feira, 15 de outubro de 2013

fotografias de gente feliz

Gostava de vê-los, aquela coisa do casal, duas filhas lindas, um carro jeitoso, uma apartamento comprado há pouco nos prédios ricos da cidade, uma pose feliz. Ela ligeiramente grande, foi a gestação das filhas, havia que correr ao fim do dia enquanto as ditas ficavam na avó, fizesse chuva, fizesse sol. Parece que o esforço não se dava a conhecer a quem espreitava, tinha sempre ar de matrona imponente, e a antipatia não ajudava a compor a delicadeza que se quer numa senhora. Encontrava os dois a subir o prédio, meninas pelas mãos, pressa no passo, entra, beija, deixa, a correria das matinas que se preparam para largar em fugida mal vacilamos os pés tropeços nos saltos ou nos sapatos de graxa, sim sim, ainda se usam. Há tempos que a encontro só a ela, ligeiramente mais leve de corpo, significativamente mais pesada de espírito, impaciência expressa na voz, na boca, no cabelo, na roupa, muito embora com simpatia manifestamente mais desenvolvida, confesso que nem percebia. A avó espera sempre na escada, as netas correm todos os dias para lhe chegar, e parece que já não as incomodo à passagem, valha-nos isso. Não o via há uns meses, poucos, dois ou três, o tempo suficiente para agora o encontrar a sorrir nas Caraíbas (alvissaras às redes sociais), ao lado de uma outra senhora também ela imponente, mas desta feita muito mais sorridente. Andem, poupem-me a explicações, eu sei que os homens se perdem com simpatias, não deve haver nada melhor. Foto explícita, coco na mão, legenda ao lado, não vá o mundo perder a felicidade que expele dos olhos já sem óculos, há soluções muito mais charmosas, todos sabemos. Menos incómodas também, estamos lá para chatices crónicas. Vi-o ontem nesses propósitos, mesmo antes de hoje a vislumbrar novamente, saia travada, saltinho médio, filha ao colo, filha na mão, a pressa de sempre, a avó à espera, o dia que corre quase quase igual. Nem me perco a imputar acusações, tenho lá eu tal competência, muito embora pudesse tentar, sou mulher. Centro-me em poucas questões essenciais, ora vejamos: a maternidade é a melhor e a pior coisa do mundo, da paternidade não falo, não sei o que é; a minha vizinha de baixo, sempre atenta às minhas saídas e às minhas chegadas, está por ora ocupadíssima no amparo às netas e à filha, vai-me deixar para sempre em sossego, tenho para mim; a impertinência, concluo, é um problema que se resolve por si, deveríamos estar conscientes disso, de nada me valeu o cuidado nos saltos, o elogio da paciência, a tentativa de emitir um ar de pessoa que gosta da vizinhança, pelo menos quando comparado com a tranquilidade impelida pela ocupação interna e externa da senhora (o ócio não dá saúde a ninguém); a simpatia pode nascer tarde, quase aos quarenta, dizem que não sabem porquê, mas eu juraria que sei; as Caraíbas, são um óptimo cenário para tirar fotografias de gente feliz.    

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