domingo, 12 de outubro de 2014

1 de novembro, um dia como outro qualquer

Movo-me no meio de um circulo de perspectivas importantes no que confere à vida e à morte, e no que respeita à validade de um testamento vital, com perspectivas francamente distintas sobre o assunto. Se por um lado as ciências médicas optam, na generalidade, por sustentar o corpo ao limiar da possibilidade, por outro as ciências que se debruçam sobre os processos mentais analisam o todo, e consideram que a qualidade de vida é um direito tão ou mais importante do que um simples coração a bater artificialmente, impossível de se encontrar outra vez. 

A questão da eutanásia, demasiado importante para ser esquecida, mas excessivamente delicada para excessos de discussão, vai um passo à frente, sendo um assunto que se impõe com urgência para uma análise pluridisciplinar, livre o suficiente para não reduzir um ser humano a uma crença religiosa, e respeitando a liberdade a que todos temos direito. Não trago para aqui, também devido aos motivos que atrás descrevo, incentivos polémicos que remetam para algum dos lados, não me sinto sequer capacitada para o assunto. Arrisco apenas algumas questões, as mesmas que me perseguem, e que estão totalmente isentas de dogmas limitativos; Brittany vai morrer a 1 de Novembro. Por escolha sua, numa solução mais rápida que matará de vez por todas o tumor que a mata ela, devagarinho. Será legítimo? Se não considerasse esta hipótese, iria ficar sujeita a uma degradação prevista que não pretende para si, enquanto ser humano e enquanto pessoa. Será justa para com ela mesma, privando-se dessa travessia de evolução? Acreditando na ignorância sobre o futuro, e encarando a ciência como em constante evolução, até que ponto perderá a oportunidade de algum aperfeiçoamento inesperado, ligado à ciência médica? 

Planear um nascimento em qualquer circunstância, mais ou menos razoável, é uma acto natural, onde a interferência directa com a natureza não cabe como questão. Planear a morte, por sua vez, vai contra distintos princípios, com inúmeras frentes e opiniões. A liberdade e a dignidade de cada pessoa acabam por ser, a meu ver, os nobres reitores de cada processo. A lei, por si só, talvez não devesse imiscuir-se tanto no assunto. Parece-me demasiado pessoal para constar no limite de um decreto.

4 comentários:

  1. Ontem li essa notícia e mais uma vez fiquei, num curto espaço de tempo, com o assunto eutanásia a pairar sobre a cabeça, já que na semana anterior também vi um filme de seu nome "Mel" que o aborda numa perspectiva que me toca (quem tiver interesse sobre o tema vale muito a pena, em relação à questão da suposta legitimidade). Li também opiniões contra que vão sempre no sentido de "evolução pessoal", de capacidade de aceitação, de religião, de egoísmo ou até cobardia, de fuga à dor e facilitismo entre outras. Enfim, o que me ocorre logo de imediato e até iniciei um rascunho é algo do género "quem és tu para achar que eu devo evoluir espiritualmente ou a outro nível qualquer?, quem és tu para medir o meu sofrimento?, quem és tu para considerar que o meu sofrimento é menos ou mais justificativo da tua sentença?. Claro que isto implica muitas questões como a de um doente perante um certo acompanhamento poder converter a sua visão sobre o seu próprio fim ou caminho até lá chegar mas mesmo assim ninguém é alguém para dissertar sobre isso. Ninguém quer morrer, isso é certo. Há quem quisesse somente chamar vida ao que tem, mas sabe que não o poderá fazer, e depois há quem ache pertencer aos sentimentos dos outros.

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    1. É um assunto que facilmente gera controvérsia. Se percebo um médico que defende a vida? Percebo, é assim que é ensinado. Mas também percebo quem por algo de grandiosamente mau em termos de saúde, escolhe morrer. O que me parece é que o assunto raramente é tratado sem questões dogmáticas envolvidas. E merecia. Merecia muito...

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  2. Aceito mais facilmente o direito à eutanásia do que o aborto (dito «normal» e não em casos extremos: violação, perigo de vida para a mãe, etc), ainda que seja totalmente a favor da legalização do mesmo (não creio que prender mulheres - e os homens? - seja solução para alguma coisa.

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