quarta-feira, 29 de outubro de 2014

excepção

Existem sempre os livros que nos ensinam a existir de forma saudável. Os compêndios que nos explicam como escrever, as bulas que nos esclarecem como ministrar, as sabedorias populares que insistem em tabelar. Conheço quase de cor as regras às quais sou submetida, consigo recitar o correcto e o incorrecto, na ponta da língua, depressa ou devagar. Sei o que devo comer, o quanto tenho de dormir, quando preciso de estar a trabalhar, a que horas tenho de preparar os jantares, lavar os lençóis, espanar a casa do pêlo e do pó. Sou sabedora que deverei espreitar debaixo da cama, por detrás dos móveis, nas arestas escondidas, por entre as mantas da gata. Sei exactamente quando é Inverno e quando é Verão, se é dia de descanso ou de labuta, quais os meus direitos, os meus deveres, as minhas responsabilidades e as minhas precisões. Julgo até que conseguiria escrever isto tudo num guia de bolso, devidamente ordenado alfabeticamente, etiquetado, com títulos, negritos, sublinhados, notas ou asteriscos, um manual que eu poderia consultar na hora do esquecimento, na força do cansaço, na ansiedade do medo. Mas bem vistas as coisas, nem sei se seria preciso. O mundo, o mundo que gira, não é um conjunto de regras, é um conjunto de excepções. Aceitá-las e percebê-las, é toda a ciência que ainda nos falta.

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