quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Quase indignada

Tenho-me mantido meio em silêncio quanto às diversas medidas do governo. Aperto os cintos que tenho a apertar, encolho o estômago e emagreço o corpo (cof, cof), aqueço-me com um cobertor e esqueço o radiador, não seco roupa na máquina e se o faço, aproveito a noite e a tarifa bi horária, quase quase extinta. Não vou trabalhar a pé só porque ainda não consigo correr trinta quilómetros por dia e lavo-me com água quente, por enquanto, que os senhores do gás são uns simpáticos que resolveram bloquear-me o contador numa leitura sempre igual, ou seja, tenho-o de borla. Entrei de cabeça na crise e na austeridade, nos cortes e nas contenções, tal e qual como se fosse um projecto muito meu o deste País que se afunda devagarinho, deixo trabalhar na recuperação quem supostamente sabe o que faz, acolho as medidas impostas e pago com o meu trabalho, o meu suor, a minha dedicação, e nunca me encosto para ver o barco a passar em frente aos meus olhos. Não tenho reclamado, encaro como necessidade, e mesmo que não encare, ajo como se fosse, e até, confesso, me irrito com frequência com os excessivamente indignados que se revoltam contra o governo, contra a Alemanha, contra o sol e contra a chuva e ainda contra as meias que calçam todas as manhãs. Mas depois há dias em que eu mesma me canso desta minha acomodação, e em que me apetece perguntar a quem manda, mas que raio é isto? Quando oiço cortes na educação estremeço, tal como estremeço quando oiço cortes na saúde, por serem pilares demasiado importantes e já consideravelmente fragilizados. E parece-me isto tão básico, que não entendo como é que se consegue considerar a hipótese de se vir a taxar o ensino secundário. Provavelmente, e antecipando vozes que por certo se levantarão perante a onda de indignações, virá breve a público a informação de que a existir, se tratará de uma propina pequena, quase insignificante, uma migalhita de nada que só surtirá algum efeito por ser abrangente e por sair do bolso de toda a gente. Poderão até existir situações de bolseiros, aqueles sortudos que por serem ainda mais pobres não vão pagar, ou vão pagar menos, para conseguirem concluir o obrigatório sem definharem pelo caminho. O que parece que ninguém pensa é que retirar mais migalhas a pães já secos poderá não ser boa política, e ainda que se o País está tísico e empobrecido deveríamos pelo menos continuar a educá-lo, iluminando as mentes e abrindo as portas ao mundo. Para que daqui a uns anos possamos continuar a emigrar, tal e qual nos indicaram algures, sem ser só para irmos fazer o que ninguém quer, mas também para sermos cientistas, biólogos, paleontólogos, e por ai fora.

( Retirem deste texto os excessos. Por vezes também me acontece, é o que é. Aproveitem-lhe a ideia base e esqueçam o resto.) 

4 comentários:

  1. Cf, eu não estou quase indignada...estou MESMO INDIGNADA...

    :) sorrisos. muitos, antes que se lembrem também de termos que pagar os sorrisos.

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  2. Ana, se calhar, só mesmo porque não podem. sorrisos para si também. :)

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  3. Partilho a tua postura, totalmente:) Tenho-me mantido "calma" e paciente, esperando por melhores dias. Cansa-me a política portuguesa, a conversa da crise...Mas de vem quando sinto o mesmo que tu - mais indignação e raiva. E achar que não há direito, uma pessoa trabalha e tudo foge...(e há quem esteja pior, muito pior). Vamos ver... acredito que não durará eternamente. O raio do otimismo:):) Bom fim de semana, Carla.

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  4. Pois é Fátima, por vezes cansa. Ainda tento adaptar-me, entendo muitas das medidas adoptadas, mas esta possibilidade parece-me honestamente demais. Esperamos que não passe de possibilidade. Bom fim de semana :)

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