sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

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Leiam-me com olhos de crítica, com olhos de sono, com olhos de inveja ou com olhos de morte. Podem soletrar-me as palavras uma a uma, linha por linha, na ordem exacta ou em sentido inverso. Ousem ainda saltar algumas quando me estendo, ou sorvê-las devagarinho se me encolho, por falta de tempo ou paciência. Podem vergar-me os textos, entupi-los de suaves açucares ou das mais substanciosas peçonhas, espremê-los e retirarem deles o que bem entenderem, estão cá para isso, e que sirvam o propósito. Mas estejam cientes, sempre, de que muito embora os sorvam arrumados a vós, tudo o que se passa pode estar precisamente ao lado. Não constitui mentira, não. É somente uma questão de privacidade, por vezes beleza de texto. Encerro a presunção de achar que me exprimo muito melhor na desgraça, vejam só. O amor sofrido, por exemplo, não há nada mais belo do que um amor sofrido. O amor extasiado pode entorpecer-me os textos de poesia ridícula, não gosto disso. E quem fala de amor, fala disto ou daquilo.

16 comentários:

  1. Se há coisa que deve mesmo estar encerrada é a presunção. Adorei. Sorriso.

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    1. Manuel, ainda bem que gostou. Sorrisos para si também.

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  2. A introspecção é a melhor concelheira para quem escreve e como é mais espontânea nos períodos de tristeza... :) :)

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    1. Antígona, a introspecção é boa, de facto. Mas não sei se me é mais espontânea na tristeza, a sério que não. É o efeito literário do drama, penso que é mais por aí. Sorrisos para ti. :)

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  3. "tudo o que se passa" está na realidade sempre ao lado; nem sempre do lado preciso, mas sim do lado que precisa estar, porque é preciso que esteja, para que possamos vê-lo, critica-lo, adormecer nele, ou com ele... morrer dele, ou por ele, se preciso for.
    ;))

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    1. Isso, Bartolomeu. Uma coisa é o que se escreve, outra coisa é o resto. E o resto, sim, está no devido lugar, mas pertence a cada um...
      :))

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  4. Já sorri. Grande texto, Carla. "Tudo o que se passa pode estar precisamente ao lado" : esta frase é toda uma poética da blogosfera de autor. E sim, claro, grandes são as potencialidades estéticas da tristeza.

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    1. Obrigado, Ivone. E se sorriu, ainda bem. A tristeza é boa para a escrita, mas os sorrisos são bons para a vida. Aquela que é mesmo nossa.:)

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  5. E que amor sofrido deves ter para escreveres assim! Passei ao lado...? :)

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  6. :) Paulo sabes bem que não tenho. A ti, nada te passa ao lado, ó...

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  7. Cito uma resposta sua a um comentário:

    "Isso, Bartolomeu. Uma coisa é o que se escreve, outra coisa é o resto. E o resto, sim, está no devido lugar, mas pertence a cada um...
    :))"

    O Resto, que me atrevo a dizer que é Tudo, está sempre lá, presente e a latejar. Digo eu, que moro em Deixa-o-Resto e não o consigo, nem quero, deixar. (Sim, leu bem e pode rir. É mesmo Deixa-o-Resto, aldeia situada no Litoral Alentejano, metrópole de 10 habitantes que, imagine-se, até consta no mapa. Pelo menos no do concelho... rsrsr)

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