quinta-feira, 6 de junho de 2013

pão

Ainda há bem pouco tempo ouvi de uma boca sabedora que as padarias tendem a desaparecer. Fecham uma a uma devagar e levam para bem longe os cheiros a farinha a pão e a bolos, como se transportassem um bem menos precioso. Ora as padarias são mais ou menos como a sopa, não deveriam desaparecer nunca, sob pena de deixarem os Portugueses afogados em pães de forma sensaborões ou em pãezinhos de mistura sem sal. Nada tenho contra o flagelo da hipertensão, mas um padeiro que se preze sabe que o sal está para o pão como está para o queijo da serra, ocorreu-me este exemplo, simples simultaneidade de pensamentos, que jamais pensaria com intento em tal queijo esbarrondado numa côdea de  pão alentejano. Bem sei que andamos com pressa. Bem sei que os fornos da Jerónimo Martins cozem duzentas carcaças pré congeladas e armadas a fermento enquanto o diabo esfrega um olho, que é mais ou menos o mesmo do que dizer enquanto a porta da fornada se abre e se fecha. Sei também que os bolos de ferradura embalados à pressão são quase iguais aos que a minha avó amassava horas esquecidas debaixo de um sobreiro sem sol, mas a verdade é que os quase são o que distancia o óptimo do satisfatório, coisa que convenhamos, é um afastamento enorme. Ainda ontem atingi a dimensão ao abeirar-me do assunto, devidamente desperta. Os croissants amontoavam-se desmaiados e embalados à molhada, sem respeito ou tradição; não havia papel pardo, qual quê, outra condição sine qua non para que o sabor se enalteça ao máximo do rigor; o pão em baguete suava em bica dentro de uns sacos esburacados com um nó que os prendia à embalagem e ao calor com um aferro maior, chegaram-me a casa mortinhos e acabados; o pão dito caseiro, estava arrumado em embalagens de letras garrafais, fatiado e já sem vida.  Acabemos com isto, ocorre-me dizer. Boicotemos o pão em massa, construa-se uma confraria. Há greves, senhores, realmente importantes para o bem de todos nós.

8 comentários:

  1. Que fome me deste! Pão alentejano, cozido em forno de lenha, amassado como manda a lei e barrado com queijo da serra! Estou contigo. Mas não te esqueças do vinho tinto. Tem de ser tinto :) :)

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    1. Costumo dizer em brincadeira que me alimentava só dessas três coisas... :)

      ( Tenho por cá um pão quase do Alentejo. Deixa, quando cá vieres, já sei o que te vou dar... :)

      Beijinho.

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    2. Uma tábua de queijos, dos bons; um bom vinho e pão alentejano, que mais pode uma pessoa desejar?! :) :) :)

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    3. Ora vês como tu sabes o que é bom... :)

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  2. É verdade, não há nada como o pãozinho caseiro, daqueles bem verdadeirinhos, com a côdea a estalar!!!

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