domingo, 6 de fevereiro de 2011

Esperança

Esperança veio ao mundo com o nome devido. Nem poderia ter sido outro, tal a necessidade que a vida lhe dá, a cada dia, a cada passo, daquela bendita graça, escolhida por sua avó, sob desígnios divinos, tem isso por certo. Desde o dia em que nasceu até hoje, recorre a ela, à esperança, quase como lhe recorrem ao nome, entre as mazelas que aconteceram, as que acontecem, e as que por certo virão, dado que, e muito embora mantenha a fé, ou esperança, como preferirem, já tem consciente que o seu destino é um fado, dos verdadeiros, sofridos e chorados. Todas as desgraças por ela vividas, nem me apraz agora relatá-las, fiquem sabendo apenas serem muitas, acreditem-me, e que isto vos chegue, que a mim, já se constitui demasia, havendo muitas delas, que preferia nem conhecer, dado que a gosto, é de perto, de cá de dentro, do coração. Munida de grandeza interna, criada, recriada, inventada e sempre conseguida, vê-se agora a braços com uma doença séria, já em recaída, que como é seu destino, o que quer de mal que lhe aconteça, acontece sério, e não cá num qualquer dano ligeiro, de fácil recuperação. E eis que se depara com um sistema de saúde que lhe exige taxas e pagamentos para necessidades efectivas que lhe podem custar a vida. Em tempos, algumas isenções existiam, hoje, na conjuntura de necessidade que sempre deteve, aliada a uma doença fatal, os recursos escasseiam-lhe, e o nome que lhe deram, quase lhe foge da boca. Além do mais, fugiu-lhe ainda o complemento ao trabalho de uma vida, que das suas mãos, surgia doçaria para a venda que rondava a perfeição, desde bolos a broas, passando por filhós, ou alguns doces de colher. O peito que lhe levaram, deixou-lhe o braço lento, frágil, inchado, pelo que agora, de pouco lhe serve, tendo a sua verdadeira arte ficado adormecida, sem lhe dar prazer e frutos, por assim dizer.

Acompanho de perto esta, ou outras situações de carência efectiva, prejudicada pelos cortes no sistema de saúde. Taxas pagas, fármacos sujeitos a portaria, que perderam o estatuto, como se determinadas doenças graves deixassem de o ser, entre outras. Perturba-me um estado social que continua a exigir tanto de quem tão pouco tem. Perturba-me um sistema frágil de apoio na doença, situações da vida onde a fraqueza se instala nas gentes, sejam elas fortes, sejam elas fracas, pelo medo, pela incerteza. E havendo tanto mais onde conter.

1 comentário:

  1. Isto vai deixar, pelo caminho, muitas vítimas. Como se de uma guerra se tratasse. Escreve o que digo...

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