sábado, 5 de fevereiro de 2011

Excessos

Ela dava-se de mais. Não uma dádiva qualquer, mas uma dádiva de corpo e alma, daquelas que levam tempo, amor e dedicação, porque mais não via, do que as gentes que tanto amava, numa convergência total direccionada sempre a outros, nunca a ela. Se carência houvesse, se tristeza se lesse, ou dor se detectasse, a primeira coisa feita por si, era o cuidado, independentemente do que deixasse para trás, normalmente algo de si, que ficava por fazer, sem pena ou indignação. Alguém a precisava, constituindo esse alguém criatura amada, pelo que nem percebe, o que faz determinadas mães, mulheres ou outra denominação dependendo do contexto, deixarem-se a elas primeiro e a eles depois, nunca ela se via, em tal condição.
Perdurou no tempo a postura, o socorro em hora de aflição, o amparo na hora da solicitação, o sempre lá, preciso ou não, que vezes houve, muitas para ser exacta, em que a necessidade nem se verificava efectiva, era já um encosto, um contar exacerbado, dado que dali a falha, nunca surgia.
Após tanta dádiva, mais não conseguiu em triste hora de precisão, do que uma amarga distância. Nem que o amparo dado se tenha mostrado deveras mirrado, que o mesmo surgia, quando havia tempo e vontade, mas para quem tanto sempre deu, ainda que apenas e só com coração, e sem esperança de retribuição, aguardava-se um melhor cuidado. Consciencializa porém, que a falha nem é dos outros que hoje lhe dão o que podem, mas sim dela, que sempre lhes deu demais. Não o verbaliza, engolindo a tristeza, amargando a doença, mas nem precisa, que sei exactamente o que sente. Resta-lhe a doçura do que já deu. Essa, ficou dela para sempre.

2 comentários:

  1. Pois é...:) nem podia ficar de mais ninguém senão dela. É que essa "necessidade" de dar também tem, como tudo, a sua "patologia" :)
    Beijos

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  2. E que patologia Antígona. Toma sorrisos. Bom Domingo :)

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