sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Perigos

Necessitamos de sua existência, num paradoxo interno incompreensível, se não de todo, pelo menos tendo em conta um principio lógico que me ocorra, já até me debrucei verdadeiramente sobre o assunto, e não apenas me limitei a pensa-lo inconsequentemente, como quem pensa uma qualquer trivialidade. Já de pequena me lembro do interesse suscitado por determinados animais assustadores, terríveis feras que poderiam atingir-me, se por minha parte houvesse algum descuido, como uma maior aproximação ou uma fuga mais lenta. Recordo vivamente os sapos, que julgo já cá ter trazido, e as aranhas, bicho horripilante, embora me pareça que a grande maioria das gentes, nem bem abranja o perigo que incorrem, em estarem defronte tal animal, redondo, peçonhento, patudo. Como pessoa consciente do perigo, respeito-as ao longe, mas nem sempre assim foi, em criança, usava perturba-las em suas casas de tijolo, que as próprias enfeitavam com uma densa teia, a fim de se resguardarem de iras externas. A minha, manifestava-se por norma em forma de caneta bic cristal, trazida para o recreio à revelia da professora, que introduzia delicadamente no buraco, a fim de vislumbrar a bicha aparecer cá fora, facto que ocorria exactamente antes de minha fuga. No caso de resistência, surgia a minha insistência. Nem bem sei,tal como disse no inicio do texto, o que me motivava a invasão. Curiosidade, nem me parece resposta coerente, que cansada de as ver, estava eu. Maldade, embora por vezes possa parecer, nem condiz comigo, acreditem, que sou da maior doçura que Deus pode deitar a este mundo. A única teoria lógica, parece-me a mim ser a excitação que me acartava o contacto com o risco em forma de aranha, e a minha possibilidade de fuga, eu era grande como um raio. Hoje, volvidos quase trinta, julgo que os motivos que me levam a encarar certos perigos se assemelham.

2 comentários:

  1. Você tem razão, necessitamos da existência do perigo, talvez para mostrar a nós mesmos que podemos superá-lo. Talvez... Talvez para sentir algo pulsando sob a nossa pele, com força.
    Não sei.

    Belo texto,

    Beijos

    Carla

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  2. escreve muito bem . parabéns *

    Todos precisamos do " perigo " senão seria tudo um mar de rosas , e pederia toda a piada !
    Beijinho*

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