domingo, 14 de agosto de 2011

Os anjos de oiro

O chão fugia-lhe por debaixo dos pés, tal e qual como se deslocasse em cima de um tapete encantado, que a levava em cima, dependurada. Pensou ela, por fracos momentos, que poderia de tal forma ser transportada, montada em tão nobre artefacto, vindo, quiçá, de uma qualquer história de contos de fadas, daquelas que conhecia a existência, ao de longe, lida num livro, ou ainda, melhor, ouvida da boca de sua avó, que lhe contou tantas que não mais esqueceu. Enganou-se, a pobre, que minutos depois percebeu, que aquele estranho embalo mais não era do que um engano, um embuste, uma farsa, que a vida, não se presta cá a doçuras, contos e outras histórias, inventadas por gente para dourar os negrumes dos dias, os amargos das horas. Tem para ela, que cada uma delas, foi construída por alguns iguais a si, detentores de sonhos e ambições, que nem encontrando poiso onde assentar, assim se acudiram, criando em seu imaginário doces acontecimentos, lugares de descanso, terras do nunca. Resolveu pois criar uma só para si. Precisava dela, pode-o dizer. Era uma vez, dois ou três personagens inventados, com ares de anjo e corações gigantescos, que ganharam vida num dia de sol acentuado, que lhes doirou a pele e os caracóis do cabelo. Tinham o estranho poder de adocicar tudo onde tocavam, sendo preciso apenas um simples encostar. Do lado do mal, uma estranha figura, muito grande e desajeitada, queria apanha-los, ciente que estava do perigo que corria, não fossem os ditos tocar-lhe, e ainda ao resto do mundo. Em emboscada ardilosa, quase que os apanhou, deixando a terra cinzenta, só do susto de os poder vir a perder. Mas eis que por obra de engenho, os divinos seres ousaram escapar, tocando, de mansinho e durante a fuga, aquele monstro enfurecido, que vai-se a ver, e sem querer, se aligeirou, e monstro deixou de ser. Gostou da história. Guardou-a, num baú escuro e escondido, não fosse ser encontrada, indo lê-la, quando carecida. Jura, que nessas horas, os anjos de oiro lhe tocam no cabelo.

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