terça-feira, 30 de agosto de 2011

Retratos

No meio de umas casas novas, acabadinhas de fazer por entre uns areais recentemente descobertos, passeia-se, regalada com tamanho presente, dado por uma vida retraída, e quase sempre avarenta. Nem bem percebe de onde lhe surgiu tal regalia, sabe porém que o melhor, é sorver o que o seu corpo conseguir armazenar, sob pena de um dia, e de novo entregue às agruras, não ter sequer o que lembrar. Há muito interiorizou que as dádivas do mundo são servidas em jeito doseado, umas vezes muitas, outras nenhumas, sendo que esta capacidade de guarda, tem-lhe valido de grande ao coração, pobre músculo ressequido, que bebe muito de quando em vez, e se aguenta no resto do tempo, que é muito. Iniciou o primeiro passeio de madrugada, que a aurora traz-lhe força, mais desperta nesta horas. Passeou-se por entre as casas branquinhas de riscas azuis, com chaminés terminadas em arrebites, nunca houvera visto nada assim. Do meio do nada, nasciam edifícios sem fim, a urbanizar um terreno agreste e selvagem, com vista a que o Homem possa verdadeiramente deleitar-se, naquelas praias de areia fina e águas calmas. Ali pode banhar-se sem ninguém a ver, até porque, nenhuma pontada lhe afecta o costado, já velho e esburacado, que se aguenta com o morno da água. Fosse-lhe assim morna a vida... Um dia encontrei-a a sorrir, por entre poças de água parada, no meio de rochas e caranguejos. Não esperava ver-me, mas não se intimidou, continuando com uns abanicos de mãos, idênticos a uma criança feliz. A felicidade das crianças é diferente das dos adultos, já sei disso. Podemos ser infinitamente felizes enquanto gente grande, mas ainda assim, sempre e só na ausência da ingenuidade. Ficou-me em forma de um retrato, mais presente do que muitos verdadeiros, para onde tenho de olhar, a fim de os rever.

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