segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Das velhas que riam

Na encosta, inúmeras casinhas azuis e brancas, pintalgam um cenário idílico, daqueles que se vêm dentro de um quadrado televisivo, ou quando muito, num sonho abençoado por mão divina, que em determinada noite, a uma certa hora, resolveu prendar alguma mente pecadora, e dar-lhe o direito a sentir de perto, o toque e o cheiro de tão fabulosa paisagem. De chinelo nos pés, calcorreou devagarinho aquelas ruas estreitas, ladeadas de sardinheiras coloridas, e velhas às janelas. No cimo da colina, uma Mesquita de cúpula azul, alberga dentro um conjunto de gente que resolveu rezar pelo mundo, onde um Rabi concentrado na tarefa que lhe foi concedida, ora despretensiosamente, seguido dos seus fiéis, que ali se depositam dias e dias a fio, como se as suas vidas para isso servissem, nem havendo por certo outra tarefa, à qual se pudessem dedicar. Estão todos, sem excepção, em claríssima devoção. Sai, e continua o seu trajecto, desta feita, descendo a colina. No fundo, um mar azul, cravejado de barcos pequenos que dançam ao vento, lança-lhe um cheiro poderoso, inconfundível, num apelo forte, que juntamente com o calor do ar que respira, o fazem descer mais depressa. Nas ruas estreitas, e no fim da tarde, as velhas ainda estão. Todas, exactamente no mesmo local. Sentiu um tamanho conforto, como se ali sempre tivesse pertencido. Nem bem sabe explicar o efeito que elas lhe trazem. Como se das rugas que lhes cravam o rosto, dos lenços que lhe apertam o pescoço e a alma, do branco encardido dos cabelos atamancados, lhe emergisse uma vida sem limites, ao invés de uma morte próxima, impossível de estancar, já iminente na sombreira das portas, robustas e pesadas, mas por demais fracas, perante tal imensidão. Enquanto passa, os seus ares de sorrisos inundados de boas tardes, trilham-lhe um caminho de cores vivas, deixando-o na certeza de que a vida, emerge de tudo e de nada, do inicio e do fim, do feio e do belo.

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