Lá num alto, muito acima da minha cabeça, repousavam os coelhos. As coelheiras, dispostas em filas, viviam dentro de um barraco de madeira construído para o efeito, comido devagarinho pelo sol e pela chuva, que pareciam dele alimentar-se, como se disso carecessem, para se assumirem grandes e fortes, pobres de nós que sob eles vivemos, submissos. Mesmo ao lado, o galinheiro, rodeado de uma rede larga e redonda, acomodava os frangos brancos e gordos, que se degolavam quando estavam capazes para isso, dois meses volvidos do nascimento, mais coisa, menos coisa. Nunca assisti à operação, embora tenha visto com frequência a dos coelhos, um espectáculo pouco recomendado, mas que na época, soava a banal. Um murro no lombo, o pobre esperneava, e pouco depois era amanhado, enfiado em vinho e alhos, e no dia a seguir na panela. Não podiam esquecer-se de retirar o fel, um pequeno pedaço de fibra verde alojado no fígado, que se deixado, largava um amargo forte e intenso em todo o cozinhado, que ficaria de imediato inutilizado, deitando por terra todo o preparado, desde a matança, até ao tacho, passando pela incredulidade da expressão dos meus olhos, ainda pequenos. Por detrás das casas da bicharada, ervas cresciam todas misturadas, sendo preciso algum tacto na colheita, a fim de se apanharem apenas as apropriadas, não fosse o descuido acontecer, e deixar os pobres coelhos envenenados. Eu, gostava especialmente de lhes tirar as caganitas, em forma de azeitona, duras e abundantes. Os frangos, esses, ingeriam uma pasta de farelo e couve migada, misturada com outros restos de comida de sobejo, todos remexidos num alguidar de barro especialmente destinado ao efeito, riscado de verde e laranja, envernizado por fora e muito brilhante. Tudo isto, se dava na casa da minha bisa, território do qual já só existe o sítio. Hoje, no Alentejo, ainda que ao de longe, vi cenários quase iguais. Não trouxe um coelho, mas veio um pão. Cheira a fermento e atenta-me a alma.
Cheira sobretudo a memórias e não melhor cheiro que esse...
ResponderEliminarNão há comentário que te deixe que não tenha uma gaffe, irra cérebro queimado!!!
ResponderEliminarNão HÁ cheiro melhor que esse lol.
Se te atenta,come-o. Saboreando, claro :)
ResponderEliminarPS
(Já fazias falta)
:) Aos dois...
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