domingo, 6 de novembro de 2011

Lugares de mim

Lá no olival vêm-se batas floridas, compostas por botins verdes e chapéus de sol. As mulheres sempre gostaram de batas floridas, como se as mesmas compusessem uma beleza já ida, um aligeirar de pesos, uns sorrisos já esquecidos. Muitas rugas rasgam faces tingidas pelo sol de inverno, enquanto os cânticos douram as tardes já frias e muito ásperas. Sente-se um vento forte. Cá dentro, nas memórias embutidas que tento esquecer, surgem-me afagos já idos, doces, quentes. Não gosto de os sentir, e queria muito esquece-los, como se possível fosse. Um dia, Miguel Sousa Tavares, que tantos gostam, como tantos detestam, disse algo que me persegue. E conta que com ele caminham todos os importantes da sua vida, ainda que já se tenham ido. Acrescenta ainda que não perdeu nunca nada, apenas a ilusão de que tudo poderia ser dele para sempre. Nada é nosso, é um facto, embora gostemos muito de julgar que sim. Luto a cada dia por encarar este facto, mas ainda não estou lá. A pertença, mesmo que ilusória, continua a fazer parte da minha vida. A leveza de tudo, a inconsistência da vida, ainda não é um lugar meu.

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