sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Onde?

Não interessa o seu nome. Não vem ao caso, é apenas um entre muitos dos que encontro, sem haver nunca quem os sustenha. Vivia sozinho numa casa na berma da estrada, pertença de seus pais já idos, ainda por dividir. Todos os dias de manhã, um serviço requisitado pelos familiares lavava-lhe o corpo enfraquecido, deixava-lhe comida para o dia e encarregava-se de verificar se a toma dos medicamentos era feita devidamente, que bastam pequenas falhas, para que as vozes que lhe saltam de dentro acordem, surjam em força, e lhe comandem os passos largos, que nem sabe para onde dirigir. Umas vezes para aqui, outras para ali. O seu dia era passado entre uns cigarros sorvidos com força, quase dando a ideia que deles dependia a sua existência, tal a sofreguidão com que os levava à boca, lhes mordia o filtro, lhes chupava o fumo, levado até dentro das intermitências da alma. Quem sabe até, se tal procedimento lhe vinha de alguma réstia de sapiência mirrada, e que a tentativa era abafar os monstros transeuntes que lá moram dentro, e o mandam, todos os dias, sem dó nem piedade. Sim, poderia ser isso. Houve um dia porém, que mesmo em cuidado, as vozes despertaram demais. O que se chama de descompensação, e que trata um desequilíbrio agudo de uma doença que em descanso já não deixa sossego, quando mais em estado de inquietação. Foi a partir daí que as sopas, os cuidados e os cigarros deixaram de bastar, para se precisar de um apoio constante, sob pena de se correrem sérios riscos, próprios e alheios. Procura-se, mas, como sempre, não há onde. Um porque não cabe, o outro porque o dinheiro não cobre, outro ainda porque não aceita, sob pena de a violência poder tornar-se significativa, e deixar os restantes em perigo. Compreende-se claro, e continua-se a busca do sítio, de carácter urgente, que parece não existir. Haveria talvez de haver um outro mundo paralelo, chego a pensar. Onde as divisórias chegassem para arrumar toda a gente, e onde quem pertence ao alheio, ao dentro, não ao fora, tivesse lugar digno para existir.

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