terça-feira, 2 de abril de 2013

águas

As fontes do Martim Moniz são as que melhor alvitro, mas tenho por certo já vir de muito mais longe na linha recta do tempo. Dos poços e das poças, dos rios e dos ribeiros do agrião doce. Mas é concreta a memória da época em que me passeava nas fontes novas daquele largo, quando me apetecia ao exagero da vontade enfiar os pés na água e deixar-me estar, nem que para isso me arrefecesse o tutano dos ossos. Fujo quando isso acontece, claro. Banho-me sempre com cuidados redobrados nos nossos mares que arrepiam até os peixes, meto um pé de cada vez, tremelico o queixo e arrisco a cintura, raramente deixo cobrir os ombros. Atribuo portanto esta vertente a algum recalcamento que anseio consciencializar, não clareando o fenómeno que assim encaixo num mero gosto, sem debruces afincados ou demais explicações. Sei que não é verdade. Bastam-me cheias, por exemplo. Ponho os olhos aqui e quero rumar ao sítio onde poderei observar e sentir as correntezas que correm mais ou  menos furiosas, não me importa sequer, gosto igualmente de águas paradas. Devo dizer que a cor escura me acanha. Aprecio essencialmente a limpidez que me permite olhar o chão que repousa em baixo. Gosto de perceber as rochas que a suportam. Preciso de sentir a areia que se enrola do lado de dentro do mar. Talvez esta minha explicação não sirva de coisa nenhuma para quem me lê. Talvez dê a perceber que muito embora esteja farta do Inverno, é a ele que pertenço até à eternidade de ser pessoa. Talvez explique a alguém o porquê das tempestades não me guardarem em casa e me chamarem para perto, perto demais.

(Sou ribatejana, é um facto. As fontes do Matim Moniz são um devaneio camponês com disfarce cosmopolita. Deixem-me, andem. Há delírios significativamente maiores.)

8 comentários:

  1. Em boa verdade só te banhas toda em águas ferventes do caldeirão. De preferência com um diabinho a rodar as águas do caldo... :p

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    1. Em boa verdade, estás quase certo. Isto para não dizer que acertaste em cheio, coisa que convenhamos, seria admissão em demasia... :)

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    2. Mas em boa verdade gosto mais de águas menos mornas, pois há arrepios que valem muitos vendavais. Aqueles de pôr os olhos em bico. :p

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    3. :)) Calculo que sim. Devo pois informar-te, que com algum esforço entro em águas menos mornas com a rapidez suficiente... O pescoço, esse, quase sempre fica de fora. O que não me parece constituir qualquer tipo de problema.

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  2. Mentira. Um cabelo montês molhado é qualquer coisa de interessante. Emerge escorrido de olhos fechados. Não sejas picuinhas, vá! :)

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    1. Picuinhas, eu? Hum, olha que não. :))) Ligeiramente friorenta, mas ainda assim atrevida o suficiente para dar cabo do frio num segundo. Duvidas?? :))

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    2. Reservo-me ao direito de não me pronunciar... :P

      (Até já)

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    3. E fazes muito bem... :)

      (Até já)

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